Especialista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz explica a doença neurológica frequentemente diagnosticada em lutadores.
Com a crescente popularização do MMA (Mixed Marcial Arts) – prática de artes marciais mistas, que inclui boxe, muay thai, karatê, judô e outras – e exposição dos lutadores na mídia, muitas pessoas questionam o teor violento do esporte. Na prática, esses profissionais têm preparo físico adequado para aguentar os golpes sem maiores consequências. Por outro lado, alguns traumas podem ter reflexos tardios ou até fatais.
Conhecida há mais de 80 anos, a “demência do pugilista” é o estágio final de uma doença cerebral crônica e progressiva, caracterizada por uma alteração neurológica que ocorre pelo efeito cumulativo de traumas cerebrais repetitivos. Por essa razão, a doença é mais frequente em lutadores profissionais, tornando-se evidente geralmente após vários anos do término de sua carreira – os boxeadores amadores também podem apresentar sintomas e sinais de uma lesão cerebral crônica, porém mais leve.
Aparentemente, a doença está mais relacionada ao padrão repetitivo dos traumas do que a intensidade isolada deles, uma vez que existem outros esportes nos quais podem ocorrer lesões cerebrais mais intensas, porém não tão recorrentes. Vale observar que o dano cerebral que ocorre em lutas é o resultado de diferentes padrões de força, incluindo golpes que levam ou não ao nocaute (quando há maior movimentação do cérebro dentro do estojo craniano, muitas vezes resultando na perda de consciência).
Os sintomas da demência do pugilista podem ser apresentados por alterações motoras, cognitivas ou psíquicas. Inicialmente surgem alterações caracterizadas por tremores e discreta falta de coordenação, conciliados a mudanças de humor, e estágios de euforia ou depressão. Posteriormente, as alterações motoras podem se acentuar, caracterizando um quadro parkinsoniano, além de um agravamento também na parte psiquiátrica, com impulsividade, inadequação do comportamento, inclusive sexual, e agressividade.
“O ideal é que os esportistas tenham constante acompanhamento neurológico para agir de forma preventiva no tratamento da doença”, afirma Dr. Eli Faria Evaristo, neurologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.