Crescimento da próstata: hospital de SP usa pela 1ª vez técnica menos invasiva; veja como funciona

Data: 26/06/2023 Publicado em: Estadão.com - SP

Sem sangramento ou necessidade de internação, Rezum envolve uso de vapor de água e é opção para tratar problema; custo alto e risco maior de recidiva são desvantagens do método.

Uma técnica inovadora que usa vapor de água (Rezum) para tratar a hiperplasia (aumento) benigna de próstata foi usada pela primeira vez no Brasil na última quinta-feira, 22, segundo o Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Os três pacientes foram submetidos ao procedimento não invasivo em São Paulo.

Com menos chance de “perda” da ejaculação (ejaculação retrógrada), sem os riscos do sangramento ou necessidade de internação, o Rezum é opção para quem que não quer passar pelas cirurgias “tradicionais”. É uma alternativa também para quem não se adaptou às medicações.

Embora tenha menos efeitos colaterais e riscos, a chance de recidiva é maior e custa de R$ 16 mil a R$ 17 mil. Esse valor, por ora, precisa sair do bolso do paciente, pois não há cobertura dos planos de saúde.

“Cabe muito bem para o paciente que quer fazer cirurgia mais simples para resolver o problema e não quer ficar tomando remédio”, afirma Carlo Passerotti, coordenador do Centro Especializado em Urologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

Fachada do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, pioneiro na aplicação de técnica inovadora com vapor de água (Rezum) para tratar a hiperplasia benigna de próstata Foto: Divulgação

O que é a hiperplasia prostática benigna? A próstata é uma glândula que só homens têm. Fica na frente do reto, abaixo da bexiga, “abraçada” na parte superior da uretra (canal por onde passa a urina). A função dela é produzir um líquido que compõe o sêmen, que nutre e protege os espermatozoides.

Em jovens, a próstata pesa cerca de 20 gramas e é do tamanho de uma ameixa. Com a idade, ela cresce (hiperplasia), mas isso não representa um problema em si (“benigna”). Alguns homens são assintomáticos. Mas ela pode ter repercussões na micção (ato de urina) e, se não tratada, pode ter complicações sérias na bexiga e nos rins.

Segundo Daniel Moser, supervisor da Disciplina de hiperplasia benigna da Sociedade Brasileira de Urologia, os sintomas mais frequentes são dificuldade para urinar; jato fraco; sensação de que não esvaziou totalmente a bexiga; gotejamento após “terminar o xixi”; e levantar à noite para ir ao banheiro.

A hiperplasia afeta mais da metade dos homens com mais de 50 anos, segundo o Ministério da Saúde. O apresentador de TV Raul Gil, de 85 anos, passou por uma cirurgia neste mês após diagnóstico de hiperplasia

Conforme manual da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), disponível na biblioteca virtual da Universidade Aberta do SUS, o risco de um homem precisar tratar sintomas do aumento prostático é de 30%; Já a probabilidade de precisar do tratamento cirúrgico é de 10%.

Não é incomum que pacientes apresentem a hiperplasia e o câncer de próstata, mas os dois quadros são diferentes. “A hiperplasia acontece no meio da próstata e o câncer, na periferia. É como se fosse uma mexerica: o câncer acontece do lado de fora, e a hiperplasia, no gomo”, explica Passerotti.

Tratamento

Seja porque os sintomas aparecem gradativamente ou por medo de potenciais efeitos colaterais do tratamento, os pacientes costumam demorar para buscar diagnóstico e passam a adaptar a vida aos sintomas. “O jovem, ao comprar passagem de avião, escolhe a janela para ver a paisagem. Se tem mais idade, a próstata começa a dificultar ( a micção ), e ele compra no corredor para ir ao banheiro”, diz Passerotti.

A demora em buscar diagnóstico e tratamento pode levar a complicações sérias na bexiga, com infecções recorrentes e surgimento de cálculo. Também pode comprometer os rins – em casos mais graves, há insuficiência renal. “A bexiga perde a contratividade, o poder de esvaziar a urina”, afirma Moser.

Antes do Rezum, logo após o diagnóstico, eram apresentadas duas opções ao paciente: tratamento medicamentoso ou cirúrgico. Alguns precisam de ambos.

Segundo Passerotti, são usados dois tipos de medicação no Brasil. “Um que relaxa a próstata pra urinar mais fácil, o alfabloqueador; e um tratamento que usa um bloqueador de uma enzima, a 5-alfa-redutase, que faz murchar a próstata”.

Os principais efeitos colarerais são disfunção erétil, “perda” da ejaculação (o paciente não ejacula mais o líquido e, por isso, alguns não sentem prazer) e hipotensão postural (tontura por baixar a pressão). Como não trata a causa, o paciente pode precisar usar os remédios indefinidamente.

Já em relação à cirurgia, há vários tipos. A mais realizada no Brasil, conforme Moser, chama-se RTU da próstata (procedimento minimamente invasivo), que funciona para glândulas que não chegaram a 80 gramas. Nas “maiores”, o procedimento é a prostatectomia aberta (cirurgia aberta).

“Os riscos da RTU são sangramento intraoperatório; intoxicação hídrica, que o paciente tem absorção do fluido que é utilizado na cirurgia. Isso pode gerar diminuição dos níveis de sódio na corrente sanguínea; e estreitamento do canal da urina, a estenose da uretra”, acrescenta o médico. “Na cirurgia aberta, tem um problema com a incisão, que é a dor no pós-operatório e risco de perda sanguínea aumentada”.

Como é o método Rezum?

Passerotti, do Oswaldo Cruz, explica que no método Rezum, é introduzida uma câmera de vídeo pela uretra do paciente, por onde é injetado na próstata um vapor de água a mais de 100°C. Ao entrar em contato com o tecido prostático, cuja temperatura é de 36°C, provoca um equilíbrio térmico e o tamanho da glandula é reduzido em até 48%.

O procedimento é ambulatorial (pode ser feito em consultório) e não exige internação. Leva por volta de 5 minutos e cerca de uma hora e meia depois, o paciente já pode ir para casa.

O procedimento é indolor. O paciente precisa apenas ser sedado, sem necessidade de anestesia geral. Após o procedimento, ele precisa usar sonda por alguns dias e pode sentir desconforto. “Arde depois que o paciente começa a urinar, quando tira a sonda. Pode gerar um pouco desconforto por causa da “queimadura” ( desidratação da próstata com o Rezum ). É uma área que não se consegue deixar em repouso.”

Segundo o urologista do Oswaldo Cruz, o paciente pode precisar usar a medicação alfabloqueadora por curto período de tempo para maior alívio dos sintomas da hiperplasia. Mas, um ou dois meses depois, já pode deixar os remédios de lado.

Aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no ano passado, o Rezum já é usado nos Estados Unidos, para pesquisa, há cerca de cinco ou seis anos, de acordo com Passerotti. Por lá, foi considerado “promissor” e um possível “ponto de inflexão” no tratamento da hiperplasia.

“O tratamento da HBP (sigla da hiperplasia benigna) sintomática pode estar atingindo um ponto de inflexão. Novos procedimentos minimamente invasivos parecem oferecer a homens adequadamente selecionados os benefícios de alívio significativo e duradouro dos sintomas e um perfil de efeitos colaterais que compete bem com a terapia médica”, escreveu Granville Lloyd, do departamento de Urologia da Escola de Medicina da Universidade do Colorado (EUA), em editorial que acompanhou a publicação de estudo sobre os testes da terapia, na revista científica The Journal of Urology

Além da rapidez do procedimento e da não necessidade de internação, um dos grandes trunfos do Rezum é a redução do risco de ejaculação retrógrada. Segundo Passerotti, enquanto nas cirurgias a esse risco ultrapassa os 90%, com a técnica que usa vapor, a mesma taxa fica entre 5% e 10%.

“Ejaculação retrógrada incomoda muito o paciente, porque ele ‘goza” normal, mas não sai líquido. E tem alguns pacientes que associam essa não saída de líquido à falta de prazer”, afirma.

Outra vantagem é o não sangramento, que pode ocorrer nas cirurgias. “O risco (de precisar) de transfusão é quase zero”, destaca Passerotti. Embora não haja contraindicação absoluta, em pacientes que apresentem uma próstata com mais de 80 gramas, o resultado não é o mesmo e o alívio dos sintomas pode ser menor, afirma.

Desvantagens

Apesar de destacar que a técnica traz avanços importantes, como a chance menor de “perda” da ejaculação e o não sangramento, Moser vê a aplicação do Rezum como uma alternativa à medicação, mas não à cirurgia. “Metade dos pacientes vão ter de refazer ( o procedimento ) em cinco ou seis anos”.

Além disso, segundo ele, a eficácia das cirurgias na recuperação dos parâmetros urinários (fluxo, por exemplo) é um pouco melhor. Em questão de alívio de sintomas, se equiparam.

Conforme o estudo que baseou a aprovação da técnica, a chance de um paciente precisar repetir o procedimento em cinco anos é de 4,4%. Conforme explica Passerotti, por se tratar de terapia nova, o efeito de longo prazo ainda é incerto. “Em dez anos, não temos os dados ainda”. Ele pondera que a necessidade de reaplicação provavelmente será “um pouco maior” do que a de outros tratamentos.

Outra desvantagem é o custo. Segundo Passerotti, o tratamento custa entre R$16 mil e R$ 17 mil. Ele, porém, afirma que o valor não difere tanto de outros procedimentos. O problema é que, por ser terapia nova, ainda não há cobertura pelos convênios particulares.

Opção para o SUS?

A inclusão do tratamento no Sistema Único de Saúde (SUS) pode ajudar a lidar com as longas filas de pacientes que aguardam cirurgia, na visão de Passerotti. “Esse tratamento vai ser extremamente importante no SUS, porque é um tratamento simples e rápido. Há uma fila no SUS de quase três a quatro anos para tratar hiperplasia/. 60% dos pacientes que chegam no SUS com o problema estão sondados, ou seja, chegaram no limite”.

Moser, porém, destaca que a chance de precisar repetir o tratamento é um ponto a ser levado em conta. “Resolve a fila por cinco anos e, depois, vai ter a fila toda de novo”, pondera.


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