Uma das drogas mais comuns, o cigarro é associado a complicações na saúde que afetam não só os usuários diretos como também os chamados fumantes passivos. Conforme o Programa Nacional de Controle do Tabagismo, do Ministério da Saúde, com informações da Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 1 milhão de pessoas morrem todos os anos devido à exposição ao fumo passivo.
Além de estar relacionado à infertilidade, ao câncer, a doenças cardiovasculares e tantas outras em usuários tabagistas, o cigarro causa um tipo de poluição especialmente perigosa ao meio ambiente. Quando usado em espaços menores como os lares e fumódromos, entretanto, aumenta os riscos do fumo passivo por terceiros, incluindo crianças e animais domésticos.
Fumar em casa faz mal
É comum, ao entrar em locais onde se faz o uso de tabagismo, notarmos a presença de paredes e tetos amarelados. Essa parte pode ser resolvida com limpeza e
manutenção, mas o verdadeiro perigo é invisível e pode escapar até o olfato.
Segundo Ciro Kirchenchtejn, médico pneumologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, os resquícios do cigarro permanecem no ambiente mesmo após apagado e sem fumaça. “O cigarro tem entre cinco e sete mil substâncias químicas. Entre elas, oitenta que causam câncer e o monóxido de carbono. Quem fuma, inala estas substâncias e se arrisca a desenvolver as doenças mais letais do mundo ocidental, e o mesmo pode acontecer com os fumantes passivos“, salienta.
O médico explica com um exemplo: a contaminação de terceiros pelo tabaco ocorre de forma que, mesmo que a substância seja usada em uma sala após as crianças irem dormir em outro cômodo, caso fossem submetidas a um exame de urina na manhã seguinte, ainda seria possível detectar nicotina nas amostras. “A fumaça é altamente contaminante e a ideia de fumar em um aposento diferente, ou mesmo em uma varanda, não diminui o risco das pessoas que estão em casa“, observa.
Apesar do ideal ser abandonar o vício, Ciro indica que o ato seja feito fora de casa, descartando até mesmo o uso da substância no carro, que também carrega os vestígios malignos do cigarro. O médico ainda cita um terceiro efeito, com riscos ainda desconhecidos: “A fuligem que sobra do cigarro fica em tapetes e no chão. Animais domésticos e bebes, no contato da pele, também podem se contaminar, e não sabemos a magnitude deste risco“.
É de conhecimento, entretanto, que tanto animais quanto pessoas que entram em contato com as cinzas e a fumaça podem desenvolver asma, bronquiolite, meningite, dores de cabeça e mais.
Para além dos perigos à saúde, o pneumologista ainda lembra que o ato de fumar em casa é um grande causador de incêndios e acidentes domésticos e os malefícios não se resumem apenas ao cigarro comum. “Tanto os eletrônicos e narguilés quanto os cachimbos e charutos são contaminantes e podem provocar as mesmas doenças, ainda que em magnitudes e prevalências diferentes entre si. Todas elas, entretanto, produzem dependência pela nicotina“.
Perigos do fumo passivo às crianças
Apesar de representar perigo para todas as pessoas, bebês e crianças são alvos ainda mais suscetíveis às complicações por tabagismo passivo.
Segundo Tatiana Cicerelli Marchini, pediatra e neonatologista, quando uma criança é exposta ao tabagismo indireto, pode sofrer ou ter pioradas uma série de complicações, a exemplo de problemas respiratórios (asma, bronquite e pneumonia), infecções de ouvido, problemas de crescimento e desenvolvimento, já que o fumo passivo pode afetar o crescimento pulmonar e geral da criança, Síndrome da Morte Súbita Infantil (SIDS), problemas cardiovasculares e até mesmo de comportamento e aprendizado.
A médica ainda retoma os perigos de ter crianças expostas a ambientes onde pessoas costumam fumar. “Este fenômeno é conhecido como ‘fumaça de terceira mão’, quando os resíduos de nicotina e outros químicos permanecem nas superfícies e no ar, ainda que com o cigarro já apagado“.
Os perigos da “fumaça de terceira mão” não fogem das outras exposições e permanecem no ambiente, nos móveis, carpetes e nas paredes por semanas ou meses.
Controle ao tabagismo
É disponibilizado através do Instituto Nacional de Câncer (INCA), órgão do Ministério da Saúde (MS), tratamento gratuito pelo Sistema Único de Saúde (SUS) às pessoas que desejam parar de fumar.
Segundo o portal do órgão, o tratamento no SUS inclui avaliação clínica, abordagem mínima ou intensiva, individual ou em grupo e, se necessário, terapia medicamentosa juntamente à abordagem intensiva, em todos os 26 estados e Distrito Federal.