Preconceito e saúde mental masculina são barreiras na busca por diagnóstico

Data: 29/11/2024 Publicado em: JEANE CARNEIRO

Preconceito e saúde mental masculina são barreiras na busca por diagnóstico e tratamento de câncer de próstata
Campanha Novembro Azul leva conscientização sobre câncer de próstata e cuidados de saúde do homem

O preconceito e a falta de cuidados com a saúde mental estão entre as principais barreiras para que homens busquem diagnóstico e tratamento para doenças que acometem esse público, como o câncer de próstata. Acompanhamento psicológico e psiquiátrico e incentivos para que os mais jovens se habituem a procurar ajuda médica mais cedo estão entre as ações elencadas por especialistas que podem ajudar a mudar esse cenário.

O tumor de próstata é o tipo de câncer que mais causa a morte de homens no país — são cerca de 16 mil óbitos por ano, segundo dados do Inca (Instituto Nacional do Câncer). Estimativas da instituição apontam o surgimento de aproximadamente 72 mil novos casos da doença por anos em 2024 e 2025.

Os números, porém, podem não contar a história completa da doença no Brasil, uma vez que há muita subnotificação, dizem especialistas do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

O preconceito está atrelado a características específicas da própria investigação do quadro, como o exame de toque retal”, diz o Dr. Alaor Carlos de Oliveira Neto, coordenador do Serviço de Psiquiatria do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Para ele, o exame, que permite detectar alterações na próstata, causa rejeição por levantar questionamentos sobre virilidade e masculinidade.

De uma maneira geral, estamos, hoje, muito menos machistas e preconceituosos com relação à sexualidade masculina do que já fomos, mas ainda há comportamentos que refletem o preconceito”, acrescenta.

As consequências do tratamento, como as possíveis implicações sexuais, também colaboram para essa reação negativa.

Para o psiquiatra, campanhas de conscientização, como o Novembro Azul, que mobiliza organizações de diversos segmentos para sensibilizar a população com relação ao câncer de próstata e aos cuidados da saúde masculina, ajudaram a diminuir a recusa pelo exame de toque e pela busca de outros cuidados médicos nos últimos anos.

Mas ainda há um impacto significativo desse preconceito em pessoas mais velhas, que é o grupo de risco para o câncer de próstata”, afirma Oliveira Neto. Para evitar o mesmo problema com as novas gerações, o médico diz que educar os mais jovens a entrar em contato com os médicos mais cedo, levando-os a cuidarem mais ativamente da própria saúde, pode ajudar a prevenir problemas graves no futuro.

Outra causa apontada pelos especialistas para essa rejeição é que, no passado, os procedimentos eram mais invasivos e os efeitos colaterais eram mais prevalentes. Hoje, novas técnicas, como a cirurgia robótica, ajudaram a diminuir o desconforto do tratamento e a aumentar a qualidade de vida dos pacientes em recuperação, ressalta o médico.

Segundo o Dr. Carlo Passerotti, urologista e cirurgião do Centro Especializado em Urologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, o uso da cirurgia robótica na especialidade trouxe benefícios como diminuição de incontinência urinária e impotência sexual, além de uma recuperação mais rápida após o procedimento.

O receio que muitos homens têm do resultado de uma consulta ou um exame é outro fator que pode gerar sofrimento e que faz com que muitos diagnósticos sejam feitos tardiamente, diz o Dr. Ariel Kann, head do Centro Especializado em Oncologia Clínica no Hospital Alemão Oswaldo Cruz. A descoberta do tumor feita em estágios mais avançados diminui as chances de sucesso de tratamento.

O homem tende a negligenciar um pouco a saúde e, muitas vezes, a mulher ou as filhas atuam como sentinelas, contando ao médico os sinais que percebem, como a urina fora do vaso ou mudanças na forma de andar e se sentar. Como médicos, prestamos atenção ao que elas falam”, conta o médico.

Percebemos que este homem é o líder da família, tenta não demonstrar fraqueza e pensa que precisa estar sempre forte. Assim, a revelação vem por uma filha ou pela esposa”, acrescenta. “A primeira mensagem é: não espere ter sintomas para ter um diagnóstico de câncer de próstata. Quando surgem sintomas, a situação é mais grave”, completa.

Para possibilitar a detecção precoce, a recomendação é que homens de 50 anos ou mais façam todos os anos os exames de toque retal e PSA – teste de sangue que pode detectar alterações na próstata. Homens de algum grupo de risco, como os que têm histórico familiar da doença e pessoas negras, devem iniciar o rastreio aos 45 anos, explica Passerotti.

Quando o diagnóstico é feito ainda nos estágios iniciais da doença, as chances de cura chegam a 90%.

Durante o tratamento, um cuidado multidisciplinar, que conta com profissionais como psicólogos, psiquiatras e fisioterapeutas, pode aliviar o sofrimento do paciente e garantir maior qualidade de vida.

É muito comum o desenvolvimento do transtorno de ajustamento, ou de adaptação, em um quadro oncológico. Diante de uma nova realidade imposta, não desejada, as repercussões em relação ao futuro, à finitude, impactam diretamente a saúde mental do indivíduo”, afirma Oliveira Neto. Assim, exacerbação de sintomas de humor e ansiedade podem aparecer.

Essa população tem um risco maior de surgimento de desenvolvimento de quadros psíquicos. Isso deve ser acompanhado, porque prejudica diretamente o tratamento clínico. Pacientes com depressão tendem a ficar mais tempo em internação em decorrência do câncer”, conclui.


Conteúdo relacionado

Você tem várias formas de agendar consultas e exames:

AGENDE POR MENSAGEM:

WhatsApp

Agende sua consulta ou exame:

Agende online
QR Code Agende sua consulta ou exame

Agende pelo app meu oswaldo cruz

App Meu Oswaldo Cruz disponível no Google Play App Meu Oswaldo Cruz disponível na App Store