Cirurgia Bariátrica

As operações bariátricas e metabólicas têm sido cada vez mais indicadas para o tratamento da obesidade e de suas doenças associadas.

As indicações atuais são: pacientes com Índice de Massa Corpórea (IMC) acima de 40 kg/m2 e pacientes com IMC maior que 35 kg/m2, que apresentem comorbidades (doenças agravadas pela obesidade e que melhoram com o tratamento eficaz) que ameacem a vida, tais como diabetes tipo 2, apneia do sono, hipertensão arterial, doenças do colesterol, doença coronariana, osteoartrites e outras.

Os pacientes com IMC acima de 35 kg/m2 são considerados de pacientes com obesidade grau 2 (acima de 40, obesidade grau 3) e o tratamento clínico, com mudanças de hábitos alimentares e prática de atividades físicas, associado a medicações tem chances de perda de peso e principalmente da manutenção do peso perdido a longo prazo, enquanto os submetidos à cirurgia bariátrica têm ótima eficácia em termos de perda ponderal e controle das doenças associadas.

Aqueles pacientes portadores de obesidade grau 3 têm indicação cirúrgica após tentativas de tratamento clínico e comportamental sem a necessidade da presença de doenças associadas.

Já aqueles pacientes que têm IMC abaixo de 35, porém não tem doenças associadas, devem sem dúvidas, tentar o tratamento clínico antes, com chances de conseguir resultados razoáveis.

OBESIDADE | TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER SOBRE…

A obesidade é uma condição caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura corporal, resultante de um desequilíbrio entre a ingestão calórica e o gasto energético do corpo. Nas últimas décadas, tem aumentado significativamente, sendo considerada uma epidemia global. 

DIABETES | ESPECIAL SAÚDE

O diabetes caracteriza-se pelo aumento da glicemia (açúcar no sangue). Surge quando o pâncreas apresenta uma deficiência na produção do hormônio insulina ou um defeito na sua ação.
 
Para discutir mais sobre esse tema, convidamos o Dr. Ricardo Cohen, coordenador do Centro de Obesidade e Diabetes do nosso hospital, em um novo episódio da série “Especial Saúde”.

Obesidade e diabetes

No Centro Especializado de Obesidade e Diabetes oferecemos o cuidado e acompanhamento médico necessário para você e sua família.

Inaugurado em 2014, o Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz é o único centro integrado da América Latina dedicado a oferecer atendimento para essas especialidades.

Os pacientes contam com o diferencial de realizar diagnóstico, tratamento e acompanhamento em um só lugar.


EQUIPES MÉDICAS

O Centro Especializado em Obesidade e Diabetes conta com uma equipe multidisciplinar composta por cirurgiões bariátricos e metabólicos, endocrinologistas, cardiologistas, nefrologistas, ortopedistas, enfermeiros, oftalmologistas, psicólogos, psiquiatras e nutricionistas.

São especialistas de diversas áreas totalmente focados no tratamento da obesidade e diabetes , com o objetivo de oferecer mais qualidade de vida aos pacientes.

Coordenação: Dr. Ricardo Vitor Cohen

Com mais de 30 anos de carreira, 15 deles como membro do Corpo Clínico do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, foi nomeado pela Sociedade Americana de Cirurgia Metabólica e Bariátrica (ASMBS) como um dos 30 médicos de maior destaque na área.

Foi presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, (SBCBM) gestão 2011-2012 e presidente do Capítulo Latino Americano da Federação Mundial de Cirurgia Bariátrica (IFSO) gestão 2018-2019 Foi presidente do Conselho Consultivo e Fiscal, SBCBM, gestão 2014-2015.

Já realizou mais de 10.000 cirurgias e é líder em pesquisas pioneiras e com resultados efetivos, como a que comprovou a eficácia da cirurgia metabólica para tratar diabetes tipo 2 em pacientes que não sofrem de obesidade grave.

É doutor em Cirurgia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

É editor da revista “Obesity Surgery”, publicação oficial da Federação Internacional de Cirurgia para a Obesidade (IFSO).

Presidente do Congresso Mundial de Cirurgia Bariátrica e Metabólica da IFSO, realizado no Rio de Janeiro em setembro de 2016.

QUAL É O SEU FILTRO

No começo era tudo muito divertido: focinho de cachorro, orelhas de elfo, tiaras de flores, máscaras de personagens famosos. Aos poucos, os filtros das redes sociais, em especial do Instagram, foram ficando cada vez mais refinados e sofisticados. Passar maquiagem? Que nada! O próprio aplicativo passou a fazer isso pelo usuário. Hoje, os filtros praticamente fazem uma plástica na face das pessoas. Narizes são afinados, bochechas ficam diminutas, ressaltando as maçãs do rosto, e os lábios tornam-se carnudos à la Angelina Jolie. O recurso é tão fácil de usar que é como se todo mundo tivesse um Photoshop para chamar de seu. Se as redes sociais já eram o depositário do ego de cada um, com selfies e fotos tiradas sempre dos melhores ângulos, com os filtros elas se tornaram um grande catálogo virtual de beleza.

“De tanto usar filtro, uma hora a pessoa já nem se reconhece mais como realmente é”.

Graça Camara,
psicóloga do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz

Os problemas decorrentes desse fenômeno não demoraram a chegar. Postar selfie, por si só, já mexeu com a autoimagem das pessoas. De acordo com um estudo da Academia Americana de Cirurgia Facial, Plástica e Reconstrutiva, 55% dos cirurgiões plásticos faciais atenderam, em 2017, pacientes que queriam passar por cirurgias para aparecer melhor em selfies. Em 2013, eram apenas 13%. Os entrevistados notaram ainda um aumento significativo entre pacientes com menos de 30 anos. Mais recentemente, os cirurgiões americanos notaram um movimento ainda mais curioso: adolescentes começaram a levar suas próprias fotos com os filtros como referência para as cirurgias estéticas.

“De tanto usar filtro, uma hora a pessoa já nem se reconhece mais como realmente é”, alerta Graça Camara, psicóloga do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Em casos extremos, essa pessoa pode se esconder atrás da imagem virtual, sua versão filtrada, e ter até dificuldade em estabelecer relacionamentos na vida real – o que pode se agravar em um cenário como o atual, de pandemia, quando todos estão trancados em casa e vivendo mais on-line do que nunca.

Camila Rocha, 34 anos, fotógrafa de São Paulo, não era uma entusiasta dos filtros em um primeiro momento, nem mesmo dos engraçadinhos. “Todos eles, até os de cachorrinho, afinavam meu nariz e clareavam meu tom de pele”, conta. “Eu parecia uma pessoa que não era. Não era uma brincadeira”. Isso até o dia em que começaram a aparecer filtros específicos para mulheres negras. “A Rita Carreira, empresária e influenciadora, criou um filtro que era a minha cara, não me deixava branca. Comecei a usar e pensei: uau, agora eu entendo porque todas as blogueiras só aparecem de filtro. Você fica viciado naquela imagem”.

O máximo que Camila usava de filtro, até então, eram os que alteravam a granulação da fotografia ou cores da paisagem. Quando se viu viciada no que alterava a imagem do rosto, teve um momento de autorreflexão e percebeu o perigo. “Cheguei a levantar essa questão nas minhas redes: gente, é preciso tomar muito cuidado com esses filtros! Principalmente na quarentena, quando a gente só vê as pessoas pelas câmeras do celular”.

Graça lembra que grande parte dos usuários das redes sociais é adolescente, são nativos digitais que já nasceram se vendo em telas. E adolescente é muito mais suscetível à pressão social. “Eles não têm ainda uma compreensão da vida nem uma aceitação do próprio corpo. Querem fazer par – te, ser igual aos que são considerados bonitos e bem-sucedidos”, diz a psicóloga. Isso tudo pode gerar uma insatisfação que leva a distúrbios de imagem (a pessoa não se vê como realmente é), alimentares (como bulimia e anorexia) e até a distúrbios psiquiátricos, como depressão e transtorno de ansiedade. Um único comentário negativo sobre alguma parte do corpo – situação retratada no documentário O Dilema das Redes, da Netflix pode minar a já baixa autoconfiança. “No fim das contas, tudo é uma questão de autoestima, as redes sociais só amplificam o problema. Quando a pessoa não está bem consigo mesma, começa a ter problemas com a autoimagem, o que pode levar a situações extremas, como não sair de casa ou até a fazer consecutivas plásticas a ponto de ficarem deformadas”, afirma Graça.

DIGA-ME QUEM SEGUES…

Uma dica dos especialistas para quem se sente oprimido por beldades e barrigas tanquinho é avaliar quem você segue nas redes sociais. Se no seu feed só aparecem musas fitness e celebridades cheias de filtro, está na hora de tornar a lista mais diversa. Inclua ícones do body positive ou, ainda melhor, influenciadores que tratem de outros temas que não só a beleza. No caso dos adolescentes, é preciso uma atenção especial dos pais sobre o comportamento deles em relação à autoimagem e às redes sociais. “Ele ou ela anda muito preocupado com isso? Espera demais a reação das pessoas aos posts? Tem reações exageradas aos comentários?”, questiona a psicóloga. “O amparo social é fundamental para os adolescentes, mas de uma forma que não se desvalorize nem invalide a insegurança deles.”

“É preciso tomar cuidado com esses filtros, principalmente na quarentena, quando a gente só vê as pessoas pelas câmeras”

Camila Rocha, Fotógrafa

IMPERFEIÇÕES EM EVIDÊNCIA

Otávio Machado de Almeida, cirurgião plástico que atende no Hospital Alemão Oswaldo Cruz, tem notado um aumento considerável na procura por procedimentos estéticos ligados aos novos padrões estabelecidos pelas redes sociais, em especial por causa de perfis de artistas e influenciadoras – grandes adeptas dos filtros. Cirurgias de nariz, mama, lipoaspiração e redução de abdômen continuam sendo os procedimentos mais buscados por seu público, 90% feminino e cada vez mais jovem.

O médico destaca ainda que a cirurgia nas pálpebras é uma que vem crescendo, em especial ao longo do último ano, por causa do uso de máscara na pandemia. O rosto, aliás, nunca esteve tanto em destaque: é ele que aparece mais nas selfies, nos vídeos das redes sociais e agora nas inúmeras reuniões virtuais nesse mais de um ano de reclusão. As imperfeições nunca estiveram tão em evidência – e daí a ajudinha dos filtros nessas horas.

Cirurgião desde os anos 1990, ele faz um paralelo entre as adolescentes que buscavam cirurgias estéticas naquele tempo pré internet e as de hoje. “As meninas de 16 anos de hoje são muito mais ansiosas e resolutas por uma cirurgia do que as dos anos 1990. Primeiro porque elas não saem do celular, e ficam mostrando as fotos delas, das amigas e das influenciadoras no consultório. A exposição a outros corpos e rostos é muito maior”, explica. “E elas já chegam cheias de argumentos e conhecimento sobre a cirurgia, já pesquisaram tudo.”

O médico destaca ainda outro fenômeno que as redes sociais trouxeram: a busca por profissionais dentro do próprio Instagram. “As pessoas querem ver imagens e saber quem eles operaram. Os profissionais, por sua vez, exibem seus trabalhos de forma milagrosa, com ‘antes e depois’ que seduzem as candidatas à cirurgia”.

NARRATIVAS DE FELICIDADE

Seguir influenciadoras que vendem um corpo incrível e uma vida perfeita pode ser tão nocivo quanto o uso de filtros. Além de levar garotas cada vez mais novas aos consultórios médicos, como aponta o cirurgião, faz com que os seguidores muitas vezes se sintam infelizes em relação às suas próprias vidas. Foi o que percebeu a pesquisadora Cinthia Guedes em seu mestrado “Imagens da sociedade do desempenho: um estudo sobre as narrativas de felicidade no Instagram de influenciadoras digitais brasileiras”, defendido na área de Comunicação e Semiótica da PUC-SP.

Em 2018 e 2019, Cinthia passou duas semanas analisando os comentários dos seguidores de duas grandes influenciadoras brasileiras, ambas com mais de 8 milhões de seguidores, no período entre o Natal e janeiro, quando, segundo ela, os posts que mostram uma “vida feliz” aumentam substancialmente. “Elas querem mostrar os looks do dia, as viagens para praias lindas como Fernando de Noronha, e seus corpos esculturais em biquínis.” A ideia era mostrar como o ato trivial de acompanhar as narrativas de felicidade dos outros está inserido no cotidiano de milhares de pessoas, e quais são as consequências disso.

A cirurgia nas pálpebras é uma que vem crescendo, em especial ao longo do último ano, por causa do uso de máscara na pandemia”

Dr. Otávio Machado de Almeida, cirurgião plástico do Hospital Alemão Oswaldo Cruz

Os comentários, em geral, variavam entre os de enaltecimento – “Que corpo maravilhoso!” e “Minha musa!” – e os que Cinthia classificou como de “não felicidade”: “Cuspi meu panetone agora mesmo” ou “Correndo para a academia agora”. Esta segunda categoria mostra um nível de infelicidade do usuário consigo mesmo e uma autocobrança enorme, sempre se baseando em uma referência que, como classifica a pesquisadora, é irreal e efêmera.

“A felicidade do Instagram está muito ligada à juventude, magreza e poder aquisitivo”, destaca Cinthia. “Mas é uma imagem estereotipada da perfeição, construída com equipes imensas e fotos super trabalhadas. Seguir esses padrões é insano, impossível. Até porque ninguém está imune à gordura e à velhice, coisas que, no Instagram, devem ser evitadas ao máximo, ou pelo menos adiadas.” Cinthia, que é designer, se sentiu motivada a fazer a pesquisa após assistir ao episódio “Nosedive”, da série britânica Black Mirror, no qual a personagem fica viciada nas notas que ganha nas redes. Mas também teve uma motivação pessoal: ela mesma, como usuária de Instagram, começou a se sentir oprimida e infeliz com o bombardeamento de imagens perfeitas. Estar atento a quem se segue, aliás, é uma dica importante para quem quer se desintoxicar das narrativas irreais de felicidade .

“Meu objetivo não era definir o que é a felicidade ideal, mas mostrar que cada indivíduo deve encontrar o seu caminho e criar um senso crítico em relação aos discursos de Instagram, que são, no mínimo, ilusórios”, finaliza.

REFLEXÕES ANTES DE FAZER CIRURGIA

O Brasil é o segundo país com o maior número de cirurgia plástica no mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos. E a procura por procedimentos estéticos tem se dado entre mulheres (principal público) cada vez mais novas. “O ideal é que, via de regra, a jovem espere mais um pouco antes de uma decisão importante como essa”, diz o cirurgião plástico Otávio Machado de Almeida. “É preciso maturidade inclusive para enfrentar a cirurgia por si só”. Se ainda assim a decisão for pelo procedimento, além da busca por um bom hospital com uma equipe de retaguarda, o médico destaca alguns cuidados importantes: “Pesquise o nome do profissional, veja se não há um exagero sobre os feitos dele nas redes sociais, se é credenciado da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e se não há processos contra ele no Conselho Regional de Medicina”. Lembrando que as consequências de uma cirurgia malfeita vão de deformações a cicatrizes mutiladoras, podendo chegar até a óbito.

ME DEIXA MAIS MAGRA?

Antes mesmo das redes sociais e dos filtros, a fotógrafa Camila já era uma apaixonada por fotos. Quando os celulares ainda não tinham câmera, ela não largava sua Cybershot e fazia, inclusive, selfies com a máquina digital. Como mulher negra e acima do peso, nunca se sentiu representada e, por isso, não se sentia muito confortável nas imagens. “As pessoas falavam que eu era gorda e aquilo mexia comigo, sofri bullying”, recorda. Ela tinha uma neura em especial com os braços; passou muito tempo usando camisa longa e escondendo o corpo como um todo. “O que é triste, né? Ignorar o formato do meu corpo e ignorar o espelho me fez muito mal, me anulei muito. Só fui me entender como mulher depois dos 25 anos.”

A história do braço voltou à tona muitos anos depois quando, já fotógrafa, passou a viver uma situação que se repetia a cada festa de criança que ela era chamada para registrar. “Toda vez que eu falo: vamos juntar aqui e fazer uma foto? Sempre vem alguma convidada e pede: me deixa mais magra? Dá para cortar meu braço da foto? Tudo naquele tom de brincadeira, mas que você sabe que é verdade, que ali tem trauma.”

Para ela, já nem era mais uma questão. “Eu tinha libertado meu braço, em especial depois que comecei a ver mulheres com corpos parecidos com o meu postando fotos lindas nas redes sociais”, conta, destacando que o mesmo espaço que oprime com suas beldades e filtros é também o palco de um movimento contrário, o body positive, um olhar mais positivo e abrangente sobre todos os tipos de corpo.

“Seguir os padrões do Instagram é impossível. Até porque ninguém está imune à gordura e à velhice”

Cinthia Guedes, pesquisadora na área
de Comunicação e Semiótica da PUC-SP

BELEZA É DIVERSIDADE

O movimento body positive é anterior à internet, nasce na cena da contracultura e do feminismo dos anos 1960 e 1970, embalado pelo desejo de um corpo livre de regras. Mas foi graças às redes sociais que ele cresceu e se espalhou pelo mundo, em especial por meio de perfis de mulheres que postam seus corpos tais como são, e #SemFiltro. Não deixa de ser um antídoto ao excesso de beleza roboticamente construída no Instagram e similares.

A psicóloga do Hospital Alemão Oswaldo Cruz destaca a importância do movimento em um país diverso como o Brasil. Em sua experiência clínica, ela vive uma constante: a insatisfação com a autoimagem por causa de um padrão único de beleza – caucasiano, ocidental e europeu. “A gente vive em uma sociedade que supervaloriza a aparência física e não leva em conta que a beleza é cultural. Isso num país miscigenado é ainda mais perverso”, pontua.

Inspirada pelas musas brasileiras do body positive, Camila estava liberta das neuras do braço gordo. Faltava libertar outras mulheres. Foi aí que surgiu um projeto pessoal da fotógrafa, o “Braço gordo, Braço forte”. A partir de autorretratos em preto e branco, ela bordou as fotos com linhas vermelha e amarela, representando respectivamente as amarras que ela vivia antes e as cicatrizes que ficaram desse período. O trabalho pode ser visto no site do projeto (bracogordo.46graus.com), por meio do qual ela recebe mensagens de mulheres com relatos semelhantes. “Teve gente que contou que passava fita adesiva no braço para ele ficar menor e que desenvolveu alergia por isso”, conta.

Camila se preparava para fazer a parte dois do projeto, fotografar outras mulheres e seus braços gordos e fortes, quando a pandemia começou. “Assim que der, vou retomar, porque ainda tem muita mulher presa nessa questão. E é só braço! Braço que levanta, que faz, que move tanta coisa”, finaliza, com a certeza de que o melhor filtro que existe, afinal, é o do amor próprio e de um olhar mais generoso sobre si mesmo.

ESPELHO, ESPELHO MEU

Um estudo feito pela Universidade York, no Canadá, publicado em 2018, fez o seguinte experimento: pediu a universitárias que fizessem uma selfie e a publicassem no Facebook ou no Instagram. Uma parte do grupo só podia fazer uma foto e publicá-la sem edição, e a outra metade podia fazer quantas fotos quisesse e retocálas usando filtros. Todas as participantes, mesmo as do segundo grupo, se sentiram menos atraentes e menos confiantes depois de postarem as selfies do que quando entraram no experimento. Uma vez publicadas as fotos, elas só focavam nos aspectos que julgavam negativos de sua aparência. Algumas, inclusive, quiseram saber se alguém tinha curtido a foto antes de relatarem como se sentiam sobre a postagem.

BEM – ESTAR SEM TAMANHO

A obesidade é uma doença e deve ser levada a sério. Discutimos as melhores formas de tratamento para viver sem complicações.

Dra. Camila Rodrigues Souza

A obesidade é uma doença e deve ser levada a sério. A vantagem dos tratamentos farmacológicos e da cirurgia é que eles atuam nos centros da fome e saciedade, além de promover outras alterações fisiológicas positivas para o emagrecimento. Desde 1998, as cirurgias bariátricas são feitas por videolaparoscopia no Brasil. As taxas de complicações e mortalidade são muito pequenas, de 2% e 0,1%, respectivamente, segundo a literatura médica nacional e internacional. Com isso, as resistências também vêm caindo. “Ao contrário de crenças infundadas, quando bem indicada a cirurgia é o melhor tratamento para a obesidade e suas doenças associadas”, pontua Camila Rodrigues de Souza Carvalho, nutricionista do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Camila destaca que a cirurgia é só a porta de entrada. O sucesso do procedimento vem depois. “Não adianta um paciente estar abaixo do IMC 25 [índice de massa corpórea limite para o sobrepeso] se estiver desnutrido, sem músculos no corpo. O que interessa é a saúde e não a estética”. Seja por meio de cirurgia ou tratamento clínico, o papel da(o) nutricionista, não é criar restrições, mas ocupar-se do comportamento da pessoa e ensiná-la a comer para o resto da vida.

DESDE CRIANCINHA

O bullying é um forte motivo para a obesidade ser tratada desde cedo. De 2008 a 2019, a procura por cirurgia bariátrica entre menores de 18 anos aumentou 218%, na rede privada – segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), 2100 adolescentes passaram pelo procedimento apenas no último ano. No SUS, foram 502 pacientes de 16 a 18 anos, nesse mesmo período.

Animação: Mulher pulando corda

DESCOBERTAS

Dra. Livia Porto

“Nenhuma mãe chega indignada porque o filho descobriu que é portador de diabetes, mas sim por não conseguir emagrecer. Por – que a obesidade, muitas vezes, não é encarada como uma doença”, aponta a Dra. Lívia Porto, endocrinologista do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Para ela, a pandemia foi positiva para essa questão. “O fato de o coronavírus ter na obesidade um fator de risco para a sua forma grave vem mudando o olhar das pessoas, facilitando que a reconheçam como doença.” A obesidade traz consequências proporcionais ao tempo de exposição. A cada ano aumentam as chances de doenças metabólicas mais difíceis de lidar e mais graves. “Na população com IMC acima de 40, a prevalência de alguns transtornos psiquiátricos pode ser duas a três vezes maior que na população geral”, afirma a Dra. Débora K. Kussunoki, psiquiatra do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes. A forma simplista como o emagrecimento costuma ser tratado também não ajuda, porque no caso da obesidade, a matemática não se resume a comer menos e se exercitar mais. “É uma doença crônica, multifatorial e que se retroalimenta. Tem alterações inflamatórias e de hormônios intestinais que fazem com que ela persista, trabalhando para sua continuidade”, destaca a Dra. Lívia.

#CORPOLIVRE

Ter medidas maiores do que as tabeladas na faixa da normalidade costuma significar certa exclusão social e estrutural – já que cadeiras, catracas, atrações turísticas e até postos de trabalho não comportam pessoas portadoras de obesidade. Só pelo peso, muitas pessoas são julgadas e rotuladas como preguiçosas e descuidadas e ainda recebem tratamento desrespeitoso e humilhante. Para combater esses estigmas, o movi – mento corpo livre (versão nacional do body positive) defende a aceitação de cada corpo como ele é. Para a psiquiatra Débora K. Kussunoki, só é preciso ter cuidado para não abraçar a causa contra a gordofobia e enquadrar quem quer emagrecer ou quem oferece tratamento como gordofóbico. “As pessoas têm de saber que existe uma consequência – o peso e os tipos de acúmulo de gordura acarretam diferentes doenças. Ninguém precisa ficar com o corpo perfeito, nem ser privado de tratamento”, argumenta

Dra. Debora Kussunoki

OBESIDADE versus CÂNCER

Conversamos com duas especialistas do centro especializado em obesidade e diabetes e do centro especializado em oncologia do hospital para entender a perigosa relação entre esses dois problemas de saúde.

Estar acima do peso é um problema atualmente associado a pelo menos 13 tipos de câncer. Um indivíduo que apresenta IMC (índice de massa corpórea) acima de 25 deve ficar alerta, principalmente se tiver histórico de doenças metabólicas, como diabetes, ou câncer. “Esse paciente pode apresentar uma gordura visceral, ou seja, a distribuição de gordura ruim. A liberação de enzimas de atividade inflamatória pode levar ao desenvolvimento de câncer”, explica a Dra. Lívia Porto, endocrinologista do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. De acordo com a revista Scientific American, a obesidade mais do que duplica o risco das formas mais comuns de câncer de esôfago. A ocorrência da doença está diretamente relacionada ao refluxo – pesquisas recentes apontam que 70% das pessoas obesas sofrem com os ácidos presentes no estômago que voltam pelo esôfago em vez de seguir o fluxo normal da digestão. “O obeso tem um risco muito grande de doença do refluxo, o que acaba aumentando as chances de desenvolver câncer de esôfago. O tipo associado ao refluxo é o adenocarcinoma, mais comum no finalzinho do esôfago, já na transição com o estômago”, diz a oncologista clínica Dra. Renata D’Alpino, do Centro Especializado em Oncologia do Hospital. Em entrevista à LEVE, as duas especialistas discutem o tema com mais profundidade. Confira a seguir.

“Obesidade é uma doença e seu tratamento é necessário para que a pessoa se veja livre do refluxo, do diabetes e da hipertensão arterial” – Dra. Lívia Porto

Dra. Renata: Quando há um refluxo, o conteúdo do estômago fica retornando constantemente para o esôfago e agride a mucosa. Isso se torna uma inflamação que propicia o desenvolvimento de câncer de esôfago. Por isso a gente fala que existe essa associação entre a doença do refluxo e o risco de desenvolvimento de câncer de esôfago.

Dra. Lívia: Essa é uma das questões relaciona – das à obesidade. Devido ao aumento da pressão intra-abdominal causada pela gordura visceral, há um aumento do risco de refluxo. É como se estivesse apertando o estômago e aumentando, assim, as chances desse fluido ácido retornar para o esôfago.

Dra. Renata: Vários tipos. Câncer de intestino, colo e reto, câncer de rim, de fígado. Nas mulheres, câncer de endométrio, que é a parte de dentro do útero, e câncer de ovário. Hoje, por exemplo, sabe-se que a principal causa de cirrose nos Estados Unidos é o acúmulo de gordura no fígado, e essa é a principal causa de desenvolvimento de câncer de fígado no país.

Dra. Lívia: Além do sobrepeso, que é acima de 25, a gente classifica como obeso grau 1 acima de 30 de IMC; grau 2 acima de 35; e grau 3 acima de 40. A classificação é importante porque a partir dela é possível prever as chances de risco de o paciente desenvolver essas doenças, pois, quanto maior o grau de obesidade, mais severo é o acúmulo de gordura e, assim, maiores as chances de desenvolver uma doença metabólica.

Dra. Renata: Há ainda outros fatores que podem fazer com que a pessoa com obesidade tenha risco de câncer. Nas mulheres, por exemplo, existe um acúmulo maior de estrogênio por causa da quantidade excessiva de gordura, o que pode aumentar o risco de câncer de endométrio e de câncer de mama. Outra relação é a resistência à insulina que existe no paciente obeso. A insulina no nosso corpo funciona como um fator de crescimento tanto para células normais quanto para células cancerígenas, então é como se houvesse um estímulo para as células se replicarem, e isso pode levar ao desenvolvimento de diversos tipos de câncer.

Dra Lívia: Quando há aumento da gordura no abdômen, essa resistência insulínica é ainda maior. E a hiperinsulinemia, que é um hormônio anabolizante, mas não de anabolismo de músculo, termina fazendo esse estímulo tecidual de maneira inadequada.

Dra Lívia: No Brasil, hoje, temos 40% da população obesa, e isso significa que é preciso ficar de olho não só nas doenças clássicas relaciona – das à obesidade, como diabetes e hipertensão ou colesterol alto, mas também nessas relacionadas à oncologia.

Dra. Renata: Existe um dado bem concreto de que 40% dos casos de câncer hoje nos Estados Unidos são decorrentes da obesidade. Então imagine que é um número bastante expressivo – muitos pacientes com câncer desenvolveram a doença por causa do excesso de peso.

“O obeso tem um risco muito grande de doença do refluxo, o que acaba aumentando as chances de desenvolver câncer de esôfago” – Dra. Renata D’Alpino

Dra. Lívia: Existe uma ideia equivocada de que pessoas com obesidade não precisam usar a medicação porque a solução só depende deles. Obesidade é uma doença e seu tratamento é necessário para que a pessoa se veja livre do refluxo, do diabetes e da hipertensão arterial.

Dra. Renata: Qualquer coisa fora do normal, uma dor que não passa, emagrecimento repentino, uma alteração de hábito intestinal, ou a mulher que apalpou um nódulo na mama, um sangramento vaginal. São sinais que podem ocorrer tanto em uma pessoa com sobrepeso quanto em uma pessoa sem e podem estar ligados ao risco do desenvolvimento de câncer.

Dra. Lívia: A prevenção é o tratamento da obesidade, principalmente procurar melhorar a distribuição de gordura corporal e mudar o tipo de alimento que o paciente consome. Substituir os carboidratos simples por uma alimentação mais rica em gordura boa e proteína, por exemplo. Além disso, independentemente da questão da perda de peso, a prática de exercícios físicos ajuda a reduzir a resistência insulínica, que aumenta as chances de desenvolvimento de câncer. Bastam atitudes simples, como ir ao trabalho a pé ou deixar o carro em casa e usar o transporte público.

Dra. Renata: A cirurgia bariátrica representa a chance de uma perda mais eficaz de peso nesses pacientes, e isso leva à diminuição do risco de diversos tipos de câncer ao longo do tempo. A cirurgia também funciona como prevenção.

Dra. Lívia: É preciso uma multidisciplinaridade para tratar a obesidade, porque ela não é só ambiental, nem só comportamental, nem só decorrente do estilo de vida. A obesidade é uma doença que se retroalimenta, e isso envolve alterações de hormônios intestinais, alterações inflamatórias e resistência insulínica. Acredito que o aumento de pessoas com obesidade está relacionado ao ambiente em que a gente vive e por ser uma doença que se retroalimenta. Precisamos, então, ampliar o olhar sobre o problema e entender todos os fatores que o influenciam, não apenas para tratar a obesidade, mas para preveni-la.

O QUE É COMIDA PARA VOCÊ?

Evitar o desperdício, ter mais atenção à saúde e se preocupar com o futuro do planeta. Esses são alguns dos motivos que estão transformando a nossa alimentação.

Há mais de cinco anos, quando era voluntária em uma ONG de proteção animal, Isadora Attab passou por um processo de descoberta e transformação.

“Percebi que era bastante hipócrita da minha parte continuar comendo alguns animais enquanto me preocupava com a vida e a saúde de outros. O cachorro não é tão diferente da vaca”, diz ela.

Começava aí, em 2014, sua dieta vegetariana. “Foram três anos sem comer carne para, só depois, começar a transição para o veganismo”, lembra ela.

Hoje, Isadora não come nenhum derivado animal e nem consome outros produtos de tais origens como cosméticos testados em animais e tecidos provenientes deles, como seda, couro e lã, entre outros.

A história de Isadora tem se tornado cada vez mais frequente e representa, hoje, uma fatia significativa da população. De acordo com a pesquisa mais recente do Ibope sobre o tema, de 2018, cerca de 14% dos brasileiros se declaram vegetarianos, o que representa um número absoluto de quase 30 milhões de pessoas – mais gente do que toda a população do Chile ou da Austrália – e um crescimento de 75% em relação às últimas estatísticas, de 2011.

Quando o assunto é veganismo, não existem dados apenas sobre esse estilo de vida, mas, de acordo com a Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), um bom parâmetro seriam os dados comparativos com países em que tais levantamentos já foram feitos.

Nos Estados Unidos, por exemplo, cerca de 50% da população vegetariana se diz também vegana. No Reino Unido, o número cai para 33%. Tomando como comparativo o valor menor para não correr o risco de inflar esse comportamento, de acordo com a SVB, no Brasil, deve haver cerca de 7 milhões de veganos.

“Percebo que o orgânico acaba durando mais e, quando você vai recebendo aos poucos, evita que alguns produtos sejam comprados em larga escala para, depois, acabarem no lixo”

MUDAM-SE OS TEMPOS
Mas por que tanta gente tem deixado a carne de lado e investido em uma alimentação baseada em vegetais? “Para mim, envolve muito mais coisas do que a comida. É sobre ter autonomia e soberania alimentar, para que as pessoas não precisem depender desse sistema que oprime os bichos”, defende Isadora.

“Entender que, se plantarmos e colhermos, teremos condições muito melhores para nos alimentar e sobreviver. Porque a gente come um monte de coisa que não é comida: microplásticos, produtos processados, etc.

O veganismo em que eu acredito é esse, muito mais do que falar de benefícios para o meu corpo e a minha saúde. Ele é muito mais amplo e muito mais coletivo.” Os benefícios de reduzir – ou retirar – o consumo de carne da alimentação são uma realidade. Isadora lembra que, ao adotar uma dieta vegetariana, sentiu de imediato melhoras em sua digestão, disposição geral e até uma mudança na textura da pele e do cabelo.

“Um dos princípios da dieta vegana é a saudabilidade e a variabilidade dos alimentos. E, assim como qualquer dieta que tenha esses dois conceitos como base, será saudável e terá um impacto direto e muito positivo em nosso corpo”, explica a nutricionista Cláudia Stéfani Marcilio, coordenadora de pesquisa clínica do Centro Internacional de Pesquisa do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. A mudança de hábito da população também tem causado uma transformação no cardápio de muitos restaurantes.

O chef Fabio Vieira, que comanda as casas Micaela e Mixto Gastrobar, ambas em São Paulo, fez questão de dar atenção especial a esse assunto na hora de montar seus menus. “No Micaela, a gente sempre consegue adaptar os pratos para vegano e vegetariano. No Mixto, tenho dado muito foco para saladas. Estamos num momento em que se tem discutido muito sobre a questão das carnes. Então tenho feito muitos legumes assados, verduras também. O público pede cada vez mais.” Fabio ainda dá preferência para orgânicos e alimentos não industrializados em sua gastronomia. “Não temos a questão do orgânico em 100% dos pratos, mas eu uso o máximo que posso.

Pela quantidade que o pequeno produtor entrega, pode ser uma forma de evitar o desperdício”, explica. Esse é outro ponto levado a sério: todos os alimentos são embalados a vácuo – assim, se forem descongelados, por exemplo, podem ser recongelados sem problemas – e os talos e aparas são quase sempre utilizados para fazer caldos ou mesmo incluídos como acompanhamento nas receitas. “Percebo que o orgânico acaba durando mais e, quando você vai recebendo aos poucos, evita que alguns produtos sejam comprados em larga escala e depois vão para o lixo”, completa o chef, trazendo à luz uma discussão fundamental atualmente: o desperdício de alimentos. Na América Latina, são desperdiçados, anualmente, 127 milhões de toneladas de alimentos – sendo mais da metade desse volume frutas e verduras –, segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).

Só no Brasil, são 41 kg de alimentos por pessoa desperdiçados todos os anos. E o problema do desperdício também afeta severamente o meio ambiente: descartar alimentos de modo inadequado prejudica o ar e o solo com substâncias poluentes. O paradoxo do desperdício encontra-se em uma das questões mais graves que o planeta enfrenta: a fome. De acordo com a FAO, cerca de 821 milhões de pessoas passam fome em todo o mundo. Só na América Latina e no Caribe, quase 40 milhões de pessoas vivem subalimentadas.

Em 2017, uma em cada nove pessoas foi vítima da fome. Em uma relação que se retroalimenta, o problema também encontra suas raízes nas questões ambientais, como as mudanças climáticas – segundo a FAO, entre as principais causas do avanço da subnutrição estão, além dos conflitos armados e das crises econômicas, as variações do clima e fenômenos naturais extremos, como secas e enchentes. A estimativa é a de que, em 2017, 83% das perdas e dos danos à agricultura tenham sido causados por secas em todo o mundo, e 17% por inundações. Vale ressaltar, ainda, que a desnutrição não está apenas na falta de comida, mas também na má alimentação, que acarreta na obesidade, outro problema de ordem global já considerado uma epidemia. O mesmo relatório da FAO mostrou que 672 milhões de pessoas são obesas no mundo – o que equivale a mais de uma em cada oito.

O crescimento acelerado da obesidade é um fator bastante preocupante, principalmente entre crianças. Na América Latina e no Caribe, são 3,9 milhões de meninas e meninos com sobrepeso. É o segundo maior percentual de crianças com excesso de peso no mundo. Além disso, nessas regiões, cerca de um em cada quatro habitantes são considerados obesos.

“A vida nos grandes centros fez com que a gente parasse de apreciar a alimentação e a encarasse, no dia a dia, apenas como sobrevivência”

MUDAM-SE AS VONTADES
Ainda que a discussão seja, de fato, muito mais ampla do que o que colocamos no nosso prato, é geralmente na comida que as pessoas começam a investir quando querem fazer uma mudança de estilo de vida.

E essa é também uma das formas mais interessantes e eficazes de evitar algumas das doenças que mais matam no país. Coordenador nacional do PURE (The Prospective Urban Rural Epidemiology) no Brasil, estudo que acompanha, há 12 anos, mais de 300 mil pessoas em quase 30 países diferentes, o Dr. Álvaro Avezum, cardiologista e diretor do Centro Internacional de Pesquisa do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, aponta para um adoecimento sistêmico na população mundial causado, em grande parte, pelos maus hábitos alimentares. “A alimentação não saudável, ao lado do colesterol alto, da pressão alta e da obesidade abdominal, representa metade dos principais motivos que levam aos infartos e acidentes vasculares cerebrais.

Isso significa que muitos deles poderiam ser evitados sem precisarmos de nenhum novo conhecimento técnico ou científico”, alerta o especialista. O PURE é um estudo populacional que avalia a associação do comportamento (estilo de vida) dos indivíduos ao longo do tempo, meio ambiente, genética, entre outros fatores, ao risco de adoecimento da população (eventos cardiovasculares, câncer, doenças respiratórias, renais, morte cardiovascular, por câncer e por outras causas).

Em relação aos questionários e hábitos alimentares pesquisados com os participantes, alguns resultados mostraram a importância de prestarmos grande atenção ao que ingerimos. “Quanto maior o consumo de frutas e vegetais, menor o risco de morte. A pessoa aumenta sua sobrevida só de fazer essa modificação na alimentação”, diz o Dr. Álvaro. Em relação ao consumo de carboidratos e de gorduras, a curva é inversa, ou seja, o primeiro aumenta as taxas de mortalidade e o segundo (exceto gorduras trans) reduz essas taxas.

Outro ponto importante de reforçar é que, aqui no Brasil, temos uma diversidade de alimentos gigantesca que está a favor de quem quer diminuir ou excluir o consumo das carnes e dos alimentos ultraprocessados (biscoitos, misturas para bolo, temperos instantâneos, molhos prontos, salgadinhos, nuggets etc.) do cardápio ou simplesmente adotar uma alimentação mais saudável e balanceada.

“O clássico arroz com feijão é, por si só, um prato bastante completo do ponto de vista nutricional”, reforça Cláudia, que é também assistente de coordenação do protocolo populacional do estudo PURE. “É importante que, ao adotar um padrão alimentar sem carnes e derivados animais, por exemplo, a pessoa tenha os devidos cuidados para que não falte nenhum nutriente essencial, buscando o acompanhamento de um nutricionista e/ou profissional especializado, e que essa modificação aconteça pela crença nos benefícios e na filosofia disso, não apenas pelo modismo”, pontua.

“A vida nos grandes centros fez com que a gente parasse de apreciar a alimentação e a encarasse, no dia a dia, apenas como sobrevivência. Quantas refeições nós fazemos sem nem pensar sobre o que estamos comendo?”, pergunta ele.

A lógica do fast food como o conhecemos, aplicada às grandes cadeias de lanchonetes, tem se tornado vigente em todos os campos da alimentação. Italiano, o Dr. Andrea está no Brasil há 24 anos e, além de especialista no assunto, é um apaixonado por comida. Depois de muito investir em sua formação acadêmica, ele também decidiu estudar o conceito de mindful eating, teoria que acredita no impacto positivo até mesmo na saúde quando temos atenção plena no momento em que estamos nos alimentando.

“Comer é algo extremamente importante por uma questão bioquímica, para nos manter vivos, mas é também um ritual, um momento de autocuidado. Se a gente come sempre correndo, sempre preocupado com o que virá depois ou com o que acabamos de fazer, ou distraído por barulhos excessivos, a tela da TV ou do celular, vamos fazer isso no automático, sem prestar atenção e sem curtir aquele momento”, diz.

“Para mim também tem sido um desafio, mas encaro como algo positivo. Às vezes, preciso almoçar em 15 minutos, mas, por mais curto que seja o tempo, é fundamental estar presente naquele ato.”

EM BUSCA DO CORPO IDEAL

Na era dos perfis fitness nas mídias sociais, das soluções de emagrecimento massificadas e do corpo perfeito como meta de vida, a intensa jornada pela boa forma pode levar a comportamentos extremos e pouco saudáveis. Especialistas defendem que o corpo ideal é aquele que está ao nosso alcance possível.

Por Débora Rubin fotos Marcos Pacheco

Carolina Salgado

A cada verão, a história se repete: a vontade de entrar em forma faz com que os brasileiros tentem, no último minuto, reverter os maus hábitos de um ano inteiro. Dietas extremas, exercícios em dobro, suplementos e pílulas mágicas de emagrecimento entram na pauta do dia e anúncios com essas soluções milagrosas aparecem em todas as mídias. Quando o inverno chega, o plano de um ano da academia é deixado de lado e os quilos extras voltam. Muitos jogam a toalha. Para uma minoria, o gostinho da vida saudável torna-se um bom hábito. Para outros, pode se transformar em uma busca incessante e perigosa para a saúde. A jornalista e empreendedora Carolina Salgado, 37 anos, sabe o que é passar desse ponto e as consequências que a chamada corpolatria nome dado ao culto exagerado ao corpo pode trazer para toda a vida. Aos 19 anos, ela entrou em um ciclo obsessivo: queria ser magra e ter um corpo malhado. Passou, então, a tomar remédio para acelerar o metabolismo e a malhar todos os dias inclusive aos domingos de duas a cinco horas por dia.

Esse padrão de vida durou quase quatro anos. Do uso do estimulante, para dar energia e inibir o apetite, Carolina herdou crises de pânico. Do excesso de exercício, uma luxação na patela que a incomoda até hoje, 15 anos mais tarde. “Logo depois engravidei e fiquei muito tempo sem fazer exercício físico”, conta. “Voltei a treinar só após um longo período, mas tive que escolher atividades de menor impacto por causa do joelho.” Olhando para o passado com a devida distância, Carolina entende hoje que a obsessão com o corpo escondia diversas outras questões. Depois de viver com a mãe por toda a vida, ela tinha ido morar com pai, que era ausente. Para a jornalista, a solidão e a responsabilidade por si própria contribuíram para essa escolha. Naquele tempo, em que sua dieta era à base de barra de proteína e vitamina com leite desnatado, quando os resultados começaram a aparecer, ela continuava insatisfeita e seguia na malhação pesada. “Parecia que eu tinha sido abduzida”, recorda.

ESPELHOS DIGITAIS

Carolina viveu a paranoia em um tempo em que ainda não existiam as redes sociais. A TV e as revistas, no entanto, já cumpriam esse papel de manual do que as pessoas em especial as mulheres deveriam (ou ao menos deveriam querer) ser. Mas a situação piorou. “A internet democratizou a pressão pela busca do corpo perfeito”, diz a psicóloga Joana de Vilhena Novaes. Há mais de 20 anos pesquisando o tema, a professora da PUC-Rio, onde é coordenadora do Núcleo de Doenças da Beleza, explica que, com o Facebook e o Instagram, as pessoas passaram do papel de observadoras e admiradoras de celebridades para protagonistas. “Não se cobra mais que você siga a dieta da estrela da TV que saiu na capa da revista. Agora você tem que ser a estrela da sua rede e postar suas fotos fitness.” A massificação da exposição acirrou a necessidade de ser belo. O corpo, mais que nunca, tornou-se um capital, conceito usado por Joana. “A mensagem que fica é: só é feio quem quer ou você só é gordo porque não gerencia bem seu próprio corpo”, diz. “O que é bem perverso porque os corpos são muito diferentes entre si e, no caso da obesidade, por exemplo, os profissionais de saúde sabem que ela é multifatorial.” Quanto mais se cobra um corpo perfeito, mais a obesidade se torna uma epidemia um dos paradoxos dos tempos atuais. “Mais de 50% da população está com sobrepeso”, destaca a Dra. Tarissa Petry, endocrinologista do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. A médica tem um hábito curioso: entrar em anúncios de remédios milagrosos e suspeitos nas redes sociais para ver quantas pessoas curtem e comentam. “É espantoso, vejo um monte de gente marcando outras pessoas”, conta. No dia a dia, em seu consultório, ela conta que recebe pacientes que também buscam soluções rápidas para emagrecer. A psicóloga Graça Maria de Carvalho Câmara, também do Hospital, sabe bem do que a Dra. Tarissa está falando. São anos lidando com pacientes que já tentaram de tudo e estão cansados da eterna pressão do verão: dietas da moda, remédios sem credibilidade, entre outros. “Fora o clássico: estou sem comer faz três dias e não emagreço”, diz a psicóloga. A busca pelo corpo perfeito, nas mãos de profissionais como Tarissa e Graça, vira a busca pelo corpo possível, com direito a escuta, acolhimento e ajuda no caminho do autoconhecimento. E vale anotar: a dobradinha clássica alimentação saudável e atividade física segue sendo imbatível.

BELEZA NA PONTA DA FACA

O Brasil é conhecido como o segundo país que mais faz intervenções cirúrgicas estéticas no corpo, perdendo apenas para os Estados Unidos. Um levantamento divulgado pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), em 2018, aponta um crescimento de 8% em cirurgias estéticas e de 390% em técnicas menos invasivas, como aplicação de toxina botulínica o famoso botox e preenchimentos de modo geral. Esses últimos representam quase a metade dos procedimentos. As mulheres são a maioria desse público. Viviane Angélica Mol, 31 anos, analista de seguros, é uma das brasileiras que optaram por, usando o jargão popular, entrar na faca. Frustrada por não conseguir perder a barriga, fruto de duas gestações, com dieta e academia, decidiu encarar a abdominoplastia e sonhava, em seguida, com uma lipoaspiração. Com 1,58 metro e 62 quilos, ela não tinha com o que se preocupar o IMC (índice de massa corporal) estava dentro do considerado saudável e não havia outros problemas de saúde como colesterol alto ou diabetes.

Viviane Mol

Era uma questão puramente estética, mas mexia com a autoestima e Viviane achou que era hora de encarar a cirurgia. “O médico acabou me convencendo a fazer ‘dois em um’ e mexer também no seio por um bom preço”, conta ela. O resultado agradou, mas trouxe outras questões. “Tenho sentimentos conflitantes: por um lado, fiquei feliz de me ver livre da barriga, por outro, olho para a cicatriz e sinto que tirei uma parte da minha história, da pós-gravidez”, diz. Isso sem contar os efeitos colaterais: ela ganhou um inchaço incômodo que ainda está sendo investigado e o peso, ao contrário de baixar, subiu mais três números no ponteiro da balança. Viviane ia fazer a lipoaspiração, mas desistiu. Segue na reeducação alimentar e na academia todos os dias. “A cirurgia plástica não é algo simples, deve ser pensada com calma e muito conversada com o profissional que fará o procedimento”, recomenda o Dr. Carlos Alberto Komatsu, cirurgião plástico que atende no Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Todo o cuidado se justifica: o paciente precisa estar ciente dos riscos e da real necessidade da cirurgia ainda que seja para elevar a autoestima, o que não é pouca coisa. “Se algo está incomodando e impedindo a pessoa de viver sua plenitude, a cirurgia pode ser simples, mas causa um efeito enorme na vida dela”, defende o Dr. Komatsu.

FELIZ CORPO NOVO

Cada corpo é único, e é esse o olhar da Dra. Tarissa e da psicóloga Graça no Centro Especializado em Obesidade e Diabetes. Mas alguns balizadores são fundamentais na análise médica. “Sobrepeso, colesterol e diabetes são indícios que precisam ser avaliados com muita atenção”, diz a endocrinologista. “No entanto, há muita gente com sobrepeso que está com a saúde boa. Nesses casos, vale olhar como a gordura está distribuída pelo corpo porque é a visceral, a do abdômen, a que mais preocupa.” A maior parte dos pacientes atendidos no Centro tem entre 35 e 60 anos, mas um público crescente desperta a atenção das profissionais: os adolescentes. Com o corpo ainda em formação, correm mais riscos quando tomam pílulas com substâncias desconhecidas, hormônios, e fazem treinos forçados. “Hormônios podem fazer o eixo hormonal parar de funcionar, e o corpo entende que não é preciso mais fabricá-los. No caso dos homens, por exemplo, pode acontecer de parar de produzir testosterona e passar a fabricar estrogênio, desenvolvendo mamas”, explica a Dra. Tarissa. Para Graça, é muito importante, ao longo do processo terapêutico, entender o momento de aceitação de si próprio e os limites que cada um tem. Para isso, ela trabalha com etapas, tarefas, mudanças gradativas e muita paciência. “Não falamos em quilos, mas em montagem de prato, em escolhas, no prazer da atividade física e nas pequenas mudanças de hábito.” É um processo de desconstrução de que o corpo magro é o único saudável, e que a perda de peso gradual já pode promover muito mais qualidade de vida. Emagrecer traz bem-estar, energia e ajuda a reduzir as doenças associadas. Não há nada de errado em tentar ser uma pessoa mais saudável, o problema é quando saúde vira sinônimo de beleza. “Ao fundir os dois conceitos, temos uma série de problemas, entre eles o fato de que os próprios indicadores do que é saudável mudam. Quarenta anos atrás, uma pessoa com hábitos muito obsessivos poderia ser diagnosticada com algum tipo de transtorno de ordem psíquica. Hoje, ela é considerada um modelo a ser seguido”, explica a psicóloga Joana, da PUC-Rio. Toda essa pressão pesa muitas toneladas a mais nas costas das mulheres são elas as principais consumidoras de dietas milagrosas, de revistas com dicas fitness e das cirurgias. Isso porque, segundo Joana, a beleza faz parte da questão identitária social da mulher: ser bela é um atributo. Claro, os homens não estão livres dos julgamentos sociais e muitos sobem na esteira literalmente da eterna busca pelo corpão. Mas, sem dúvida, a cobrança que eles sofrem é bem menor.

Pedro Bressan

O consultor de TI Pedro Bressan, 30 anos, conta que sua vontade de ter uma vida mais saudável e se livrar de uma incômoda barriguinha veio de dentro, e não da pressão externa para ser magro e forte. “Não cheguei a ficar gordo, mas senti que estava barrigudo e sem energia para jogar bola”, diz ele, que criou uma rotina de atividade física e dieta balanceada aos 20 e poucos anos quando percebeu que estava se deixando levar pela sedentária e baladeira vida universitária. Praticante de crossfit, tênis, pilates e escaladas eventuais nos fins de semana, Pedro fez de tudo um pouco até achar os exercícios ideais. No início da transformação, consultou uma nutricionista que realizou o sonho de toda a vida de sua mãe: ensinou-o a comer salada. Hoje, ele leva marmita para o trabalho, reduziu o consumo de álcool, mas não abre mão da vida social. “Deixo para fazer um almoço ou jantar mais exagerado quando vou sair, encontrar amigos.” Foi fácil? “Não, em especial a parte da alimentação, mas, quando vira hábito, é difícil mudar”, diz ele, que não almeja virar o marombeiro da academia, mas também não quer mais ser o primeiro a se cansar na pelada com os amigos. Nada como seguir o caminho do equilíbrio.

QUANDO O EXCESSO DE SAÚDE VIRA DOENÇA

A obsessão por só se alimentar de forma saudável o tempo todo tem nome: ortorexia. E pode virar uma doença quando começa a comprometer a vida social e, principalmente, a saúde: a pessoa prefere não comer a consumir algo que não considera saudável. Isso pode levar a uma deficiência de nutrientes e, em consequência, à anemia e a doenças mais graves.

AS REGRAS DO CORPO SAUDÁVEL

  • Ter uma alimentação balanceada a maior parte do tempo, ou seja, a que inclui um equilíbrio de proteína, carboidrato e todos os nutrientes necessário
  • Dizer não ao sedentarismo: não passar muitas horas sentado e praticar atividade física são fundamentais para manter o peso dentro do ideal e a energia em dia
  • Conhecer bem o próprio corpo: entender que os biotipos são diferentes e que nem todo mundo vai ser magro ou forte é importante para evitar frustrações com dietas e exercícios
  • Conhecer bem a si mesmo: às vezes não é o corpo que é o problema, mas outras questões psicológicas que foram negligenciadas
  • Cultivar uma rotina equilibrada: dormir bem, ter atividades de lazer e não se martirizar quando quebrar a dieta ou faltar à academia
  • Beber muita água, principalmente no verão
  • Estar com os exames médicos em dia

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