Indigestão, intestino preso e síndrome do intestino irritável são condições que podem melhorar com remédios e mudanças no estilo de vida.
Azia, queimação, gases, inchaço, constipação… quem sempre? Alguns distúrbios gastrointestinais são tão comuns, que chegam a afetar 30% da população, sobretudo mulheres.
Muitas pessoas, no entanto, sofrem em silêncio, por se tratar de sinais e sintomas considerados um tabu. Um outro tanto se automedica.
“A automedicação é algo que a gente sempre desencoraja. Às vezes, a pessoa toma um remédio por conta própria achando que tem gastrite, por exemplo, mas nem tem. Se o paciente sente dor ou outro sintoma, deve procurar um médico”, informa a gastroenterologista Maira Marzinotto, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
A seguir, as três queixas gastrointestinais mais comuns em mulheres.
Dispepsia funcional (indigestão)
Dor, azia, queimação, arrotos e inchaço no estômago são desconfortos que muitas mulheres sentem, principalmente depois de ingerir comidas gordurosas e com temperos fortes. Esses sintomas e sinais são típicos da dispepsia funcional, uma condição popularmente conhecida como indigestão
De acordo com a Fundação Internacional para Distúrbios Gastrointestinais, a dispepsia funcional afeta cerca de 30% da população . A condição é mais prevalente em mulheres do que em homens.
Quando um paciente procura um médico com essas queixas, ele pode ser submetido a exames como ultrassonografia abdominal e endoscopia, na tentativa de encontrar uma causa para seus sintomas. “No entanto, em muitos casos, nenhum achado orgânico é identificado. Às vezes, a pessoa até tem uma gastrite leve, mas não justifica tanta dor e estufamento, e gente fica com diagnóstico de dispepsia funcional”, diz Marzinotto.
O tratamento da doença é direcionado para aliviar os sintomas predominantes de cada indivíduo. Se for dor, o médico pode prescrever analgésicos.
Em caso de estufamento abdominal, medicações pró-cinéticas ajudam o estômago a se contrair. “Tem pacientes que comem pouco e, mesmo assim, têm a sensação de estômago cheio, porque o órgão se esvazia mais lentamente”, explica a médica.
O tratamento de dispepsia funcional, porém, não deve se limitar apenas ao alívio dos sintomas. “É fundamental abordar as causas subjacentes, que muitas vezes incluem ansiedade e depressão”, aponta Marzinotto.
Nesse sentido, o acompanhamento psicológico pode ser recomendado como parte integrante do tratamento, ajudando a atenuar as crises e melhorar a qualidade de vida dos pacientes.
Constipação (intestino preso)
Pela definição clássica, uma pessoa é constipada quando vai ao banheiro menos de três vezes por semana. No entanto, segundo Maira Marzinotto, esse padrão varia muito de pessoa para pessoa.
“O critério mais importante é o sofrimento do paciente. Tem gente que, se não evacuar todo dia, fica com as fezes muito endurecidas ou sente dor. Outros evacuam a cada dois dias e não têm nenhum desconforto por causa disso”, diz.
Estima-se que a constipação, popularmente conhecida como intestino preso, afete 20% das pessoas. Ela é uma queixa frequente entre as mulheres, principalmente durante a idade fértil. Os hormônios femininos, como a progesterona e o estrogênio, têm a tendência de diminuir a motilidade intestinal, o que pode levar à constipação.
O diagnóstico é clínico, mas o médico pode solicitar uma colonoscopia para verificar se há alguma obstrução mecânica que possa estar causando a constipação. “Na maioria dos casos, a colonoscopia não revela nenhuma alteração que justifique o quadro, o que leva a um diagnóstico de constipação funcional”, afirma a gastroenterologista.
O tratamento da constipação envolve mudanças na dieta, com a inclusão de alimentos ricos em fibras, como frutas e vegetais. Além disso, é essencial manter-se hidratado, consumindo pelo menos 2 litros de água por dia, pois a água auxilia na formação do bolo fecal e na evacuação. A prática regular de exercícios físicos, como caminhadas ou bicicleta, também estimulam o funcionamento intestinal.
No entanto, caso essas medidas não sejam suficientes para melhorar a constipação, medicamentos laxativos podem ser prescritos. É importante destacar que o uso prolongado de laxativos deve ser acompanhado por um médico, a fim de evitar efeitos indesejados e dependência desses medicamentos.
Síndrome do intestino irritável
A síndrome do intestino irritável é outro distúrbio gastrointestinal comum. Segundo o Colégio Americano de Gastroenterologia, ela afeta de 10 a 15% dos norte-americanos e é mais prevalente em mulheres do que em homens.
Seus sintomas incluem cólicas abdominais, acompanhadas de diarreia ou constipação, inchaço e gases. Assim como a dispepsia funcional, a síndrome do intestino irritável é uma condição na qual não é encontrada uma causa orgânica que justifique os sintomas.
“O diagnóstico é baseado principalmente na avaliação clínica, a depender do histórico do paciente. No entanto, em pessoas com mais de 45 anos, a gente costuma solicitar uma colonoscopia como medida preventiva para detectar possíveis casos de câncer de intestino”, diz a médica do Hospital Oswaldo Cruz.
A investigação pode incluir exames de fezes para descartar inflamações no intestino e verminoses. “Muitas vezes, todos os exames apresentam resultados normais e a gente conclui que é síndrome do intestino irritável, uma patologia relacionada à motilidade intestinal”.
O tratamento é direcionado para o alívio dos sintomas predominantes. Analgésicos reduzem a dor, enquanto outros fármacos ajudam a prender ou a soltar o intestino.
Segundo a médica, a dieta desempenha um papel importante na síndrome do intestino irritável, mais até do que na dispepsia funcional. A recomendação é que a pessoa evite ingerir alimentos que causem gases, como leite e derivados, vegetais crucíferos (brócolis, couve-flor, repolho) e grãos (feijão, grão de bico, ervilha, lentilha).
A dieta é combinada com medicação e, quando necessário, tratamento para condições psicológicas que possam desencadear crises. “Na maioria das vezes, a síndrome do intestino irritável está associada a hábitos alimentares e estado emocional. Essa é aquela patologia em que o paciente às vezes conta que foi fazer uma prova e teve diarreia”, relata a médica.