O transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) é caracterizado por sintomas como que trazem prejuízo à vida pessoal e profissional das pessoas a longo prazo. E talvez o nome de medicamento mais conhecido para lidar com esse quadro seja a Ritalina.
Na verdade, esse é o nome comercial do metilfenidato, um princípio ativo que também pode ser encontrado como genérico. Ele é um derivado de anfetaminas (assim como o Venvanse, que ganhou fama recentemente), e, até por isso, tem uso controlado para minimizar efeitos colaterais, como a dependência.
O que é a Ritalina
De acordo com a Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA), o TDAH é o distúrbio mais comum em crianças e adolescentes encaminhados para serviços especializados. Com base em estudos internacionais, estima-se que a prevalência da varia de 5% a 8% no mundo.
E, como mencionado, a Ritalina (ou o metilfenidato) visa justamente enfrentar o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade. “Trata-se de um psicoestimulante que aumenta a liberação de dois neurotransmissores nas vias cerebrais: noradrenalina e dopamina”, afirma o psiquiatra Alaor Carlos, coordenador do serviço de psiquiatria do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo.
Ao modular a ação dessas substâncias, o fármaco conteria os sintomas do TDAH. Ele, aliás, é de uso controlado, ou seja, dispensado apenas com receita médica. A utilização sem indicação e acompanhamento médico representa um sério risco à saúde.
“Há risco de dependência à substância, o que favorece inclusive eventos adversos como overdose e morte”, alerta Carlos.
Para que serve e quais as indicações
Crianças com TDAH podem apresentar dificuldade para prestar atenção e controlar comportamentos impulsivos. Além disso, são muito mais agitadas do que o esperado para a idade. Uma das consequências mais comuns são problemas de aprendizagem e quedas no rendimento escolar.
Já os adultos com o quadro demonstram dificuldade de se concentrar e costumam se sentir inquietos, impacientes e entediados. Há, claro, reflexos disso principalmente em organização a vida pessoal e o trabalho.
A Ritalina, ao melhorar a atenção e a concentração e reduzir a impulsividade, atenuaria os efeitos do TDAH no cotidiano.
“Mas há indicações para outros quadros, como depressões resistentes e em pessoas com sequelas de lesões cerebrais”, pontua Carlos.
Segundo ele, o metilfenidato também é usado em certas doenças que geram fadiga e até no tratamento da obesidade, por reduzir o apetite. Em adultos com narcolepsia, essa medicação alivia os episódios de sonolência excessiva durante o dia.
Formas de administração
A única forma de administração autorizada do metilfenidato no Brasil é a oral.
“O uso por via inalatória ou injetada é contraindicado. E existem formulações fora do país em que a administração é feita por via transdérmica”, diz o psiquiatra.
Dosagem da Ritalina
No mercado nacional, existem três apresentações do metilfenidato: de liberação imediata, sustentada e prolongada:
Liberação imediata: tem pico de ação rápido, de entre uma e duas horas, mas seu efeito se esvai em até três horas, o que implica a ingestão de mais comprimidos no dia.
Liberação sustenada: atinge pico de ação entre quatro e cinco horas, durando até nove horas.
Liberação prolongada: alcança o pico entre seis e hora horas e se mantém eficaz por até 12.
Em geral, os comprimidos de Ritalina especificamente podem ser encontrados em 10, 20, 30 e 40 miligramas (mg). Mas há metilfenidato comercializado com outras marcas com 18, 36 e 54 miligramas.
“A forma de usar o medicamento depende da avaliação individualizada por um profissional médico. Ela inclui, entre outras coisas, a análise do perfil do paciente, a finalidade do tratamento, a presença de comorbidades e fatores de risco identificados”, diz Carlos.
Efeitos colaterais da Ritalina
As reações adversas mais comuns são: dor de garganta e coriza, diminuição do apetite, nervosismo, insônia, náusea e boca seca. Outras consequências mais raras são angústia ou excitação emocional, inquietação, dor de cabeça, tonturas e tremores do corpo.
Alguns pacientes apresentam alterações na pressão arterial, taquicardia e palpitações. Também são relatados sinais de coceira na pele, febre, perda de cabelo, transpiração excessiva e dor nas articulações, além de tosse, vômitos, dor de estômago e indigestão.
“Há estudos que observaram também, no longo prazo, o retardo do crescimento em crianças, bem como da densidade mineral óssea”, pontua o especialista. Nesse contexto, quanto maior o tempo de uso, maior seria a intensidade desses efeitos negativos.
E, claro, há a questão da dependência. É importante conversar com o médico sobre o uso adequado e a eventual forma de retirada do metilfenidato da rotina. Mais um motivo para nunca tomar esse tipo de medicação sem uma avaliação criteriosa.
Contraindicações e observações
A Ritalina é contraindicada em casos de alergia ao metilfenidato ou a qualquer um dos componentes da fórmula. A saber, a composição inclui: fosfato de cálcio tribásico, lactose monoidratada, amido, gelatina, estearato de magnésio e talco.
O fármaco também não deve ser utilizado por pacientes que apresentem as seguintes condições:
- Ansiedade, tensão ou agitação;
- Alterações da tireoide;
- Problemas cardíacos, incluindo hipertensão;
- Glaucoma;
- Síndrome de Tourette;
- O medicamento não é recomendado para crianças com menos de 6 anos. A Ritalina também não deve ser utilizada por mulheres grávidas ou em fase de amamentação, exceto em casos de prescrição específica pelo médico.
O uso deve ser feito com cautela por pessoas que se enquadrem em alguma das seguintes situações:
- Ereções anormais ou frequentes e dolorosas do pênis;
- Histórico de abuso de quaisquer drogas (inclusive as legalizadas, como álcool e cigarro);
- Desmaios (epilepsia, convulsões, crises epilépticas);
- Casos de hipertensão ou anormalidades cardíacas;
- Qualquer distúrbio nos vasos sanguíneos cerebrais;
- Transtornos mentais agudos;
- Sintomas psicóticos, como alucinações;
- Comportamento agressivo;
- Pensamentos ou comportamentos suicidas;
- Presença de tiques motores;
- Bula da Ritalina.
A utilização de remédios deve ser acompanhada da orientação de profissionais de saúde, especialmente quando se trata de medicamentos controlados.