Durante a maior parte da história da humanidade, a ideia da transfusão de sangue era algo impossível. A afirmação caiu em desuso há pouco mais de um século, precisamente em 1900, quando o médico austríaco Karl Landsteiner descobriu a existência de quatro diferentes tipos sanguíneos: A, B, AB e O. A conclusão revolucionou a medicina e hoje permite que um profissional de saúde salve vidas a partir de uma simples transfusão de sangue, já que todos os tipos são compostos por glóbulos vermelhos, brancos e plaquetas. “Os glóbulos vermelhos são células anucleadas dinâmicas que atuam em todo o sistema orgânico”, explica o hematologista Philip Bachour, coordenador e responsável técnico pelo transplante de medula óssea do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. “Sua função primordial é o transporte de oxigênio aos tecidos e de gás carbônico aos pulmões, o que é possível graças à presença de hemoglobina, que corresponde a 95% de todas as proteínas dessa célula.”
Saber a qual grupo sanguíneo você pertence, porém, vai além da incomensurável importância da terapia transfusional para a saúde pública. Desde meados do século passado, a biologia dos tipos de sangue tem sido pesquisada para revelar a influência de cada um deles sobre a nossa saúde. Alguns estudos – a maioria ainda em processo de afinamento científico – sugerem uma maior ou menor propensão para contrair e desenvolver certas doenças. “Novos estudos, certamente, são necessários para identificar associações dos grupos sanguíneos e a ocorrência de diversas doenças. Quem sabe o desenvolvi[1]mento de novas medidas de prevenção e tratamento possam estar disponíveis no futuro”, diz o hematologista. A seguir, listamos as características e tendências de cada tipo.

Entenda as diferenças entre os tipos sanguíneos e o que estudos dizem sobre suas características e como eles podem influenciar a saúde
POR RODRIGO CARDOSO
Tipo A
- Segundo grupo sanguíneo mais comum, presente em 42% dos brasileiros
- Pode ser doado para os grupos A e AB
- Tem papel importante na fabricação de plaquetas, fundamentais para parar sangramentos e hematomas
- Estudos sugerem uma suscetibilidade ao câncer de pâncreas, aumento do risco de tumores gástricos e eventos cardiovasculares
- Mulheres com antecedentes familiares de câncer de mama teriam mais chance de desenvolver a doença
- Pessoas com esse sangue seriam mais propensas a apresentar o cortisol, o hormônio do estresse, em maiores níveis
Tipo B
- Pode ser doado para os grupos B e AB
- É um dos tipos mais raros, mais comum em negros e asiáticos. Por isso, a saúde pública tem como prioridade encorajar novos doadores dessas etnias
- Estudos sugerem uma tendência maior ao câncer de pâncreas, ao de mama e ao de ovário
- Trabalhos apontam que pessoas com esse sangue têm menos chances de sofrer com problemas digestivos
- 10% dos brasileiros pertencem a esse grupo
Tipo AB
- Pode ser doado somente para pessoas do mesmo grupo sanguíneo
- Apenas 3% dos brasileiros possuem esse tipo sanguíneo
- Importante na produção de plasma congelado fresco, fundamental no tratamento de pessoas com grave perda de sangue
- Portadores do tipo AB teriam maior propensão a dificuldades com a recuperação de memória, linguagem e atenção
- A bactéria que causa o cólera aparentemente provoca menos estragos nas pessoas com esse sangue
- Segundo trabalhos, apresenta 23% mais chances de sofrer de doenças cardíacas que o grupo o
- Estudos sugerem uma suscetibilidade ao câncer de pâncreas
TIPO O
- Grupo sanguíneo mais solicitado por hospitais, presente em 45% dos brasileiros
- Pode ser doado a qualquer outro grupo sanguíneo
- Estudos sugerem um maior número de lesões no sistema gástrico provocado pela bactéria H. Pylori
- Mulheres com esse sangue teriam uma reserva ovariana menor
- O tipo o propicia uma forte defesa imune para vencer micróbios nocivos