A expressão “dor no coração” para se referir a momentos ruins, de tristeza e mágoa, pode ir muito além da metáfora. Com mais de 35 anos de prática clínica, a psicóloga Suzana Avezum decidiu ir atrás da conexão entre sentimentos negativos como ressentimento, raiva, injustiça e mágoa, e eventos cardíacos. “Na nossa cultura ocidental, o coração é o símbolo das emoções. Mas e se essa relação fosse mais do que figurada?”, diz Suzana, que, durante dois anos, estudou 130 pacientes – metade saudável e metade já tinha sofrido um infarto do miocárdio – para analisar seus perfis, a disposição para o perdão e a relação com a espiritualidade (neste contexto, a espiritualidade não tem a ver com religião, mas com a maneira com a qual o indivíduo olha para a vida e busca cultivar sentimentos positivos).
Os achados da pesquisa, apresentada no 40º Congresso da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo, foram surpreendentes: quem tinha mais dificuldade para perdoar apresentava um histórico de problemas cardiovasculares. Além disso, 31% dos que já tinham infartado confessavam uma perda significativa de fé – entre os que não apresentaram problemas de coração, o índice foi de apenas 9%. “Lembranças ruins provocam estresse. Ruminar os acontecimentos antigos faz com que eles se tornem presentes. Ou seja, todas as vezes que você relembra, sente tudo de novo. O efeito prolongado disso bombardeia o organismo com substâncias que podem prejudicar a saúde”, explica a psicóloga.
Claro, na prática, perdoar não é fácil, mas, ao compreender que o perdão é benéfico sobretudo para o nosso próprio bem-estar físico e mental, podemos encontrar novas formas de nos abrir para dar este passo tão importante e libertador. “Perdoar é abrir mão do direito de sentir aquela mágoa. Quando somos ofendidos, magoados ou agredidos injustamente, nos sentimos autorizados a nutrir a raiva, guardar aquele ressentimento. Perdão é deixar para trás”, diz Suzana.