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A doença já atingiu mais de 650 mil pessoas no país; combater os focos de proliferação, proteger-se e buscar atendimento médico imediato em caso de sintomas graves são ações que podem salvar vidas.
Estamos vivendo um surto de dengue: de acordo com o Ministério da Saúde, até 17 de fevereiro, o Brasil já contabilizava mais de 650 mil casos prováveis da doença – uma alta de 294% em comparação com o mesmo período de 2023 – e 113 mortes; sendo que, até o fechamento desta matéria, mais de 400 mortes estavam sendo investigadas. O cenário é preocupante principalmente porque, enquanto a dengue comum é autolimitada e tratada via alívio dos sintomas, sua forma grave pode evoluir para um quadro severo rapidamente que, se não tratado a tempo, pode ter um desfecho fatal.
Mas como diferenciar a dengue comum da dengue grave? “No início, os sintomas de dengue comum e grave podem ser os mesmos, como febre, dor de cabeça e atrás dos olhos e mal-estar. O ponto de atenção está no momento em que a febre desaparece, que é quando as chances da forma grave da doença se desenvolver aumentam”, diz o Dr. Filipe Piastrelli, infectologista e coordenador do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Isso acontece por volta do quarto ou quinto dia após o início dos sintomas. “A partir daí, o paciente deve ficar atento a sinais como dor abdominal intensa, vômitos persistentes, tontura ou desmaio, queda abrupta na temperatura e na pressão arterial”, diz o médico. Se apresentar qualquer um desses sintomas, o paciente deve buscar atendimento médico imediatamente – o cuidado no período entre 24 e 48 horas após a apresentação desses sintomas é fundamental para evitar complicações mais graves e potencialmente fatais.
Mas é importante ressaltar que, seguindo as recomendações do Ministério da Saúde, em caso de qualquer sintoma da doença, seja a forma comum ou a grave, o paciente deve buscar o Pronto Atendimento.
Outra dúvida comum é sobre o risco do indivíduo desenvolver a dengue grave. De forma geral, são pessoas que têm o sistema imunológico mais frágil, como idosos, gestantes, crianças até 2 anos, pacientes em tratamento contra câncer, pessoas com diabetes, hipertensão, problemas cardiovasculares, respiratórios e outras doenças que suprimem a imunidade.
Além disso, especialmente no caso da dengue, o que aumenta a probabilidade de evoluir para a forma grave é a reinfecção.
“Existem quatro sorotipos do vírus da dengue e só é possível ter infecção por cada subtipo uma vez, depois disso, a pessoa está imunizada para aquele sorotipo específico, mas não para os outros”, explica o Dr. Filipe. “No entanto, em uma segunda infecção, a resposta inflamatória pode ser exacerbada, o que contribui para a evolução rápida da gravidade da doença.” Por isso, recomenda-se buscar o serviço de saúde o mais rápido possível.
PREVENIR E COMBATER
Doença bastante comum no Brasil, principalmente durante o período de novembro a maio, a dengue encontra condições ainda mais propícias em meio aos extremos climáticos: o calor acima da média e as chuvas intensas favorecem e aceleram a proliferação das larvas do Aedes aegypti, o mosquito transmissor. “A principal forma de prevenção é eliminar pontos que podem acumular água parada. Por isso, é essencial tampar bem caixas d’água, evitar o acúmulo de lixo, limpar frequentemente ralos e calhas, e verificar sempre vasos, pneus e outros lugares que podem facilitar a formação de poças d’água”, explica o Dr. Filipe.
Vale notar que, quando falamos em prevenção da dengue, a ação coletiva é mais urgente do que nunca. Isso significa que cada um precisa fazer sua parte nas iniciativas de combate, principalmente considerando que cerca de 75% dos criadouros estão nas residências, segundo dados do Ministério da Saúde.
Por isso, fique atento: confira regularmente os possíveis pontos que podem acumular água parada na sua casa ou estabelecimento, principalmente após chuvas fortes.
Além disso, proteções mecânicas, como repelentes, roupas com trama fechada, telas mosquiteiras nas janelas e varandas, são ações importantes para evitar a transmissão e devem ser adotadas sobretudo por pessoas que estão no grupo de risco.
No início de fevereiro, o Ministério da Saúde começou a distribuir, pelo Sistema Único de Saúde (SUS), a vacina contra a dengue, a QDenga, para os municípios que apresentam as maiores incidências de casos. A imunização foi iniciada pelas crianças de 10 a 11 anos, e irá avançar a faixa etária progressivamente.
O lote inicial, com mais de 712 mil doses, foi enviado para 315 municípios dos seguintes estados: DF, GO, BA, AC, PB, RN, MS, AM, SP e MA. O sistema privado também oferece a vacina, de acordo com a disponibilidade, considerando regiões e públicos prioritários.
De acordo com a Anvisa, a Qdenga é indicada para pessoas de 4 a 60 anos e não deve ser aplicada em pessoas que apresentem alergia a algum dos componentes, quem tem o sistema imunológico comprometido ou alguma condição imunossupressora, ou gestantes e lactantes.
Atenção: na presença de um ou mais sintomas abaixo, procure imediatamente atendimento médico.
- Dor abdominal intensa e contínua;
- Vômitos persistentes;
- Queda abrupta na temperatura do corpo;
- Sangramento de mucosas (como gengivas, nariz, vagina ou sangue urina);
- Sensação de cansaço extremo, sonolência ou irritabilidade;
- Tontura ou desmaio;
- Pele fria e pálida;
- Diminuição da quantidade de urina;
- Dificuldade de respirar;
- Dificuldade para andar.
Fique de olho e busque o serviço de saúde na presença dos seguintes sintomas:
- Febre alta, superior a 38°C;
- Dor no corpo e articulações;
- Dor atrás dos olhos;
- Mal-estar;
- Falta de apetite;
- Dor de cabeça;
- Manchas vermelhas no corpo.
Como a dengue é transmitida por vírus, é autolimitada e não tem tratamento específico. As orientações para controle dos sintomas são:
- Repousar: evite qualquer esforço físico até melhora do quadro;
- Seguir as orientações médicas de tratamento;
- Os medicamentos à base de salicilatos (AAS) e anti-inflamatórios não devem ser utilizados, pois podem causar ou agravar sangramentos;
- Utilizar compressas frias nas articulações com dores por 20 minutos a cada 4 horas;
- Manter-se hidratado: os líquidos são fundamentais para evitar o agravamento da doença. Beba de 60 a 80mL/Kg/dia de água, chá, suco, água de coco, soro caseiro ou soro de reidratação oral.
Atenção: em caso de suspeita de dengue, não tome medicamentos sem a orientação de um médico.