Passo a passo da saúde: a importância da detecção precoce do câncer de próstata
Se diagnosticada no início, a doença tem 90% de chances de cura e baixo risco de sequelas. Explicamos, a seguir, como funciona o rastreamento, quais são os métodos diagnósticos e as indicações para diferentes perfis
Muita gente sabe que a detecção precoce é fundamental para diversos casos de câncer. Quando falamos da doença da próstata, isso é ainda mais relevante. “A detecção precoce faz uma diferença absurda. A chance de cura, com a cirurgia, chega a cerca de 90%”, diz o Dr. Ariel Kann, Head do Centro Especializado em Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
No entanto, para diagnosticar o câncer de próstata, é fundamental que os homens tenham uma postura ativa em relação à própria saúde e vençam tabus e preconceitos, já que muitos ainda se recusam a fazer o exame de toque retal, um método simples, indolor e efetivo para detectar a doença, que é silenciosa no estágio inicial e só apresenta sintomas quando está muito avançada. “Ainda existe muita resistência. Muitos homens ainda têm preconceito com o exame de toque e não buscam a informação”, explica o Dr. Carlo Passerotti, urologista e cirurgião do Centro Especializado em Urologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. “Recebo praticamente toda semana pacientes que nunca fizeram o exame de toque, nunca tinham nem passado no urologista, mas foram em outro especialista, como um cardiologista ou um clínico, que pediu o PSA e fez o encaminhamento.”
A seguir, o Dr. Kann e o Dr. Passerotti falam sobre a importância de fazer o rastreamento adequado da doença, vencer o preconceito e cuidar da própria saúde ativamente, incluindo o check-up da próstata no calendário definitivamente.
Qual é a idade recomendada para começar a rastrear a doença?
O câncer de próstata surge, no geral, entre os 65 e 80 anos. De acordo com a Sociedade Brasileira de Urologia, o rastreamento anual deve ser feito a partir dos 50 anos. Mas, como ressaltam os especialistas, cada caso deve ser avaliado individualmente. “Homens negros e/ou com parentes de primeiro grau com câncer de próstata ou histórico de câncer de mama ou ovário na família, devem começar a rastrear a doença aos 40 anos”, diz o Dr. Kann.
O Dr. Passerotti também traz outra ponderação que torna ainda mais importante a individualização dos casos. “Como o câncer de próstata surge, no geral, mais tarde, às vezes, as pessoas falecem antes de desenvolvê-lo, dificultando essa avaliação do histórico familiar. Então, nem sempre o paciente sabe que ele está no grupo de risco.”
Quais são os principais exames diagnósticos?
De modo geral, são dois exames anuais indicados para detecção precoce: o exame de toque retal e a análise do PSA (sigla em inglês para antígeno prostático específico), um teste feito a partir da amostra de sangue que mede a quantidade dessa enzima, já que seu aumento pode estar relacionado ao câncer na próstata. Embora o aumento dos níveis de PSA indiquem a possibilidade da doença, valores baixos não garantem que o homem não tenha câncer. Por isso, o Dr. Passerotti ressalta a importância da associação dos dois métodos. “O PSA tem sensibilidade de cerca de 60%. Associado ao exame de toque, essa precisão chega a 80%”, explica.
Segundo o Dr. Kann, para homens que estão no grupo de risco, vale conversar com seu médico para associar um terceiro exame. “Para esses casos, o ideal é fazer um check-up mais aprofundado: além dos exames de toque e PSA, fazer também uma ressonância, por exemplo.”
“Além do check-up recomendado para todos os homens, ou seja, o exame de toque e o PSA a partir dos 50 anos, é muito importante fazer um acompanhamento ativo da própria saúde desde cedo, já que muitos homens entram no grupo de risco para o câncer de próstata e devem, segundo orientações do seu médico, começar o rastreamento antes”
Dr. Ariel Kann,
Head do Centro Especializado em Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz
Em caso de resultado sugestivo para tumor de próstata, quais são os passos seguintes?
Se o paciente tiver feito apenas os exames de toque e PSA, a etapa seguinte é confirmar o diagnóstico. A ressonância magnética pode ajudar a identificar a formação e onde o tumor está localizado, e a biópsia, ainda mais importante, revela se é benigno ou maligno, o seu tamanho, a sua agressividade, entre outros aspectos importantes.
O tratamento será definido de acordo com o tipo de tumor e perfil do paciente, considerando idade, condição de saúde, entre outras características. Se o tumor for detectado no início, o tratamento costuma ter resolução rápida. “Hoje o tratamento é cirúrgico e/ou radioterápico, este segundo com métodos como a radioterapia externa ou braquiterapia”, explica o Dr. Passerotti. “Já a cirurgia, temos a aberta, a laparoscópica e a robótica, sendo essa a melhor opção, por ser minimamente invasiva, mais segura e precisa, e com um pós-operatório mais tranquilo.” Na robótica, os riscos de sequelas, como incontinência urinária e impotência sexual, são ainda mais baixos.
Para câncer de próstata de crescimento lento e baixo risco, e dependendo da idade do paciente, é possível ainda fazer a vigilância ativa, que consiste no monitoramento do tumor por meio de consultas e exames periódicos.
Já quando falamos de tumores em estágios mais avançados, que deram metástase, entram em cena os tratamentos sistêmicos, como a quimioterapia, a terapia hormonal, a medicina nuclear, além de medicações como drogas-alvo. “É importante destacar que o câncer de próstata metastático não é uma sentença de morte; é tratável e o paciente pode viver muitos anos com uma ótima qualidade de vida”, diz o Dr. Kann.
É possível prevenir o câncer de próstata?
Segundo os nossos especialistas, este é um tema complexo, já que o fator genético é predominante. No entanto, os fatores ambientais também são extremamente importantes. “A genética é predominante em relação ao ambiente, mas não sabemos o quanto o segundo influencia no primeiro. Se o homem tem um gatilho genético e ‘irritá-lo’ com maus hábitos alimentares, sedentarismo etc., ele dispara. Já o contrário, se o paciente cultivar hábitos saudáveis, pode desacelerar o processo de aparecimento deste tumor”, exemplifica o Dr. Passerotti.
“A genética é predominante, mas os fatores ambientais são muito relevantes também para o desenvolvimento da doença. A má alimentação, por exemplo, aumenta bastante o risco de o homem ter o câncer de próstata.”
Dr. Carlo Passerotti,
Urologista e cirurgião do Centro Especializado em Urologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz