O que você precisa saber sobre o Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC)
Transtorno: condição de ordem psicológica que gera comprometimento na vida normal de uma pessoa.
Obsessão: apego exagerado a um sentimento ou a uma ideia desarrazoada.
Compulsão: imposição interna irresistível que leva o indivíduo a realizar determinado ato ou a comportar-se de determinada maneira.
Juntos, esses termos formam o TOC (Transtorno Obsessivo-Compulsivo), um transtorno mental caracterizado pela presença de pensamentos obsessivos, que, em geral, são imagens ou impulsos intrusivos e persistentes que causam ansiedade e sofrimento, ligados a comportamentos repetitivos ou atos mentais realizados em resposta às obsessões, com o foco de reduzir ou bloquear o mal-estar causado pelas mesmas.
O TOC pode afetar significativamente a qualidade de vida, interferindo no trabalho, nos estudos e nos relacionamentos interpessoais. Ele está associado tanto a doenças mentais quanto a físicas.
Mentais:
- Depressão
- Transtornos de ansiedade (como TAG, fobias e pânico)
- Transtorno dismórfico corporal
- Transtorno de acumulação
- Transtorno de tique
- Transtornos alimentares
Físicas:
- Doenças autoimunes e neurodegenerativas
- Lesões cerebrais
“É importante lembrar que a presença de TOC não significa que a pessoa terá todas essas condições. Cada caso é único e requer uma avaliação individualizada por um profissional de saúde mental”, comenta Dr. Alaor Carlos de Oliveira Neto, Head do Serviço de Psiquiatria do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
Associar o TOC à ansiedade é algo comum, porém, desde a quinta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), ele não é mais classificado como um transtorno de ansiedade. Pois, em alguns casos, a pessoa pode experienciar obsessões intrusivas e angustiantes, mas não sentir a ansiedade que geralmente as acompanha.
Segundo o especialista, identificar o TOC em pessoas próximas pode ser desafiador, mas ele destacou alguns comportamentos que devem ser observados como alerta:
- Comportamentos repetitivos: lavar as mãos excessivamente, verificar portas e janelas repetidamente, organizar objetos de forma simétrica e rígida.
- Pensamentos intrusivos: preocupações constantes com contaminação, dúvidas sobre ações do passado, medo de causar mal a si mesmo ou aos outros.
- Ansiedade e angústia: sentimentos intensos de ansiedade e sofrimento relacionados aos pensamentos e comportamentos obsessivos.
- Impacto na vida diária: dificuldade em realizar tarefas cotidianas, problemas nos relacionamentos e no trabalho devido ao tempo gasto com rituais e obsessões.
“Se você observar esses sinais em alguém próximo, converse com a pessoa de forma acolhedora e encoraje-a a buscar ajuda profissional. O diagnóstico precoce e o tratamento adequado são fundamentais para o controle do TOC e a melhora da qualidade de vida”, ressalta o médico.
Assim como para grande parte das comorbidades mentais e psicológicas, não existe uma cura definitiva para o TOC, mas temos à disposição tratamentos eficazes para melhorar a condição de vida desses pacientes.
- Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC): ajuda a identificar e modificar pensamentos e comportamentos disfuncionais relacionados às obsessões e compulsões.
- Medicamentos: antidepressivos, como os inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS), podem ser úteis para reduzir a ansiedade e as obsessões.
- Outras terapias: em alguns casos, outras terapias, como a terapia de aceitação e compromisso (ACT) ou a terapia de exposição e prevenção de resposta (ERP), podem ser benéficas.
Para o médico, a combinação de terapia e medicação costuma ser a abordagem mais eficaz para o tratamento desses pacientes, mas não é um padrão definido. “É importante buscar ajuda profissional para receber um diagnóstico preciso e um plano de tratamento individualizado”, finaliza.
Preconceitos, estigmas e desinformação, assim como em outras doenças psicológicas, ainda são uma enorme barreira para as pessoas com TOC. O medo do julgamento e a incompreensão podem levar esses pacientes ao isolamento social, intensificando seu sofrimento.
O preconceito pode reforçar sentimentos de inadequação e inferioridade, afetando a saúde mental e emocional dos pacientes, criando dificuldades no desempenho profissional e acadêmico, e interferindo na expectativa de desenvolvimento do indivíduo em sua vida pessoal, limitando inclusive as chances de busca pelo tratamento adequado.
Nessa grande batalha para que essas pessoas busquem e consigam ajuda, o papel das pessoas próximas, como familiares e amigos, é fundamental. Mas também não é algo simples; é necessário compreender os desafios apresentados por essa condição e evitar julgamentos equivocados.
“Precisamos, juntos, desconstruir estereótipos e disseminar informações corretas sobre o TOC, para contribuir com a criação de um ambiente mais acolhedor e inclusivo para os pacientes. O apoio de amigos, familiares e da comunidade é muito importante para que os pacientes com TOC superem os desafios impostos pelo preconceito e construam uma vida plena e significativa”, finaliza Dr. Alaor Carlos de Oliveira Neto.
Dr. Alaor Carlos de Oliveira Neto,
Head do Serviço de Psiquiatria do Hospital Alemão Oswaldo Cruz